domingo, agosto 15, 2010

 

Uma Professora Muito Maluquinha


Linda amável, encantadora e cheia de novas idéias para manter a classe animada.
Para ela, estudar é muito importante. E mais importante que estudar é ler. Ler e ler muito.

Genial personagem do genial Ziraldo.

História divertida que tem tudo a ver comigo, um professor muito doido.
Este livro foi a mim recomendado pelo meu colega, no Colégio Eraldo Tinoco, professor Marcos, em 2007. Ele disse-me que as idéias da personagem são iguais às minhas.
E são mesmo!

 

A Transição para o Feudalismo













Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas – Depto. de Educação
Curso: História III
Disciplina: História Antiga e a Formação do Ocidente Medieval
Professora: Dilma Filgueiras de Santana Oliveira
Acadêmicos: Ana Paula, Cláudia Coelho, Elane Carvalho, Hermas Caiuby, Ítala Naira, Janaína Rios, Patrícia Oliveira, Renato, Tássio
12/10/2008



A TRANSIÇÃO PARA O FEUDALISMO



Anderson, Perry. Passagens da Antigüidade ao Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 2004.

Faremos, a seguir, um resumo do capítulo 1 – Antigüidade Clássica, da primeira parte do livro acima citado, com as opiniões e interpretações do autor a respeito da civilização greco-romana e das transformações econômicas e sociais na Europa Ocidental durante o declínio e a queda do Império Romano.
A distinção existente entre Europa Ocidental e Europa Oriental ficou consolidada na historiografia moderna a partir da época pós-clássica, com o advento do feudalismo, diferenciando as sociedades existentes no continente com a exclusão dos eslavos do Leste, cujas condições econômicas seriam objeto de estudos em separado.
Os antecedentes do modo de produção feudal foram o modo de produção escravo e os modos primitivos dos invasores bárbaros germânicos adaptados às novas regiões por eles conquistadas.
A economia escravagista, criada com maneiras próprias pelo universo greco-romano, foi a importante base para suas tantas ações e idéias avançadas, bem como para o seu colapso final. As cidades-Estado gregas foram que primeiro implantaram uma maneira sistemática de escravidão absoluta, considerando o trabalho uma iniqüidade para o ser humano. No Império Romano, a classe dominante repudiava o trabalho sob qualquer forma, mesmo as funções tipo executivas, delegando a escravos, também, os serviços administrativos.
Beneficiada pelo Mediterrâneo, a civilização clássica foi colonialista, com cidades-Estado nas regiões litorâneas, as quais centralizavam a população rural ao seu redor. Os escravos, adquiridos pelas guerras de conquistas, liberavam do trabalho no campo os cidadãos, que, assim, podiam participar ativamente dos negócios de Estado e do exército em novas batalhas para mais aquisições de escravos.
As cidades-Estado helênicas já existiam anteriormente à época clássica, não sendo deixada disponível nenhuma fonte escrita desse período. Após a destruição da civilização micênica, veio a Idade das Trevas, retratada somente pelos poemas homéricos e foi na época seguinte, da Grécia arcaica, que a evolução urbana começou com seus primeiros passos. Monarquias foram derrubadas e o domínio das aristocracias consolidou-se. A evolução das cidades-Estado para sua forma clássica foi gradativa e em diferentes velocidades conforme a região. Fases intermediárias com tiranos no poder trouxeram avanços na legislação e nos exércitos. Entretanto, a escravidão implantada de maneira extremamente volumosa, onde o número de escravos chegava a ultrapassar o de cidadãos, foi essencial para a grande escalada da civilização clássica grega.
Sem o trabalho escravo, não existiria o ócio dos cidadãos livres em Atenas e Esparta, para os avanços do modo de vida urbano. Foi pelo ócio que subiu a patamares tão altos as artes como o teatro, literatura, escultura e arquitetura, a filosofia com seus diversos ramos do conhecimento, a política, a democracia participativa, o voto, a economia, a retórica, o debate, a administração. O preço de um escravo era muito baixo, possibilitando de possuí-los até aos camponeses e artesãos mais pobres.
No século V a.C. generalizou-se entre as cidades-Estado gregas um padrão político que consistia em um Conselho menor que propunha os assuntos a serem decididos e votados por uma Assembléia maior. As variações na composição de cada um desses órgãos definiam o grau de democracia ou oligarquia da cidade. Os primeiros registros de entidades democráticas na Grécia clássica são da cidade de Quios, no século VI a.C.. Em Atenas, com as reformas de Sólon e uma legislação deixada por Clístenes, acabando com diferenças tribais e ampliando o poder da Assembléia popular, ficou praticamente consolidada a democracia participativa.
No início do século V a.C., após tempos de incessantes conflitos entre as cidades-Estado e depois da vitória contra os persas, a era de Temístocles e Péricles trouxe a possibilidade de unificação da península balcânica com o aumento vertiginoso do poder ateniense. A Liga de Delos, criada para combater os persas, era formada por cerca de 150 cidades que pagavam um tributo ao tesouro central situado em Atenas. Essas cidades eram proibidas de manter frotas, ficando assim dependentes de proteção. O tesouro financiou diversas obras estéticas na cidade, inclusive o Partenon. Na península Ática existiam as mais produtivas minas de prata da Grécia, que chegaram até a financiar a frota ateniense que derrotou os persas na batalha de Salamina e tornou possível a circulação de moedas em um sistema monetário que trouxe um grande desenvolvimento comercial para Atenas. Unindo ainda a isso para a formação desse Império Ateniense, o fato de inexistência, nessa época, de conflitos sociais, com poucas grandes propriedades, diversificadas em pequenos lotes, sem um latifúndio localizado num mesmo lugar.
As cidades da Liga de Delos, sob o domínio de Atenas, foram obrigadas a adotar o sistema democrático de governo, o que causou revolta das oligarquias dominantes. A Liga Espartana reunia cidades numa confederação de oligarquias. Acrescido isso ao temor pelo poder acumulado por Atenas, foi desencadeada a Guerra do Peloponeso, a qual necessitou de ouro dos persas para financiar uma frota espartana. E, finalmente, Lisandro derrubou o Império Ateniense.
Nunca mais as cidades gregas tiveram a oportunidade de uma unificação na península balcânica.
A Macedônia, atrasada, arcaica, é que formou um império, inicialmente com Filipe II dominando totalmente as cidades gregas, com o uso de técnicas militares diferentes. O Império Macedônio, ocupando o espaço entre o Adriático e o Índico, ficou dividido, após a morte prematura de Alexandre, entre seus generais. Construiu um sincretismo assimilando a cultura grega e padrões asiáticos, produzindo, assim, a civilização helênica. As conquistas de Alexandre não eram seguidas de escravização, a qual nunca foi economicamente importante no Oriente Próximo. Rodes, Antióquia e Alexandria formaram um eixo centralizador do comércio.
Esse eixo sofreu um deslocamento geográfico em seu centro de gravidade após a ascensão de Roma.
Com um início monárquico, Roma tornou-se uma República, dominada pelo senado, constituído por uma nobreza hereditária de clãs de patrícios.
Em 366 a.C., plebeus enriquecidos formaram o Tribunato da Plebe, com o objetivo de proteger os pobres. Na polarização social da propriedade da terra, os assentados formavam a infantaria das legiões e morriam aos milhares. Os proletários aglomeravam-se nas cidades, sem propriedade, oferecendo ao Estado somente os filhos, a prole. No interior, vastos domínios dos nobres, enquanto as cidades tinham uma massa proletarizada. A distribuição pública de cereais substituía a distribuição de terras.
A escravidão, em Roma, era o modo de produção organizado. Roma estava atrelada à escravidão sem possibilidades de qualquer outra alternativa que não causasse o risco de dissolução do Império.
A aristocracia senatorial fez fortunas com os saques pelo Mediterrâneo, enquanto os legionários recebiam um vil pagamento e eram sumariamente demitidos. Isso causou um desvio na lealdade militar, do Estado para o general que distribuía benefícios.
O populacho, antes manipulado pelos nobres contra os reformadores agrários, no século II a.C. escapou à tutela senatorial e demonstrou um grande entusiasmo por César em sua entrada triunfal em Roma, para tornar-se ditador.
Após o assassinato de César e a ascensão de seu sobrinho Augusto, a República foi definitivamente sepultada em Roma. Iniciava-se o Império, onde Augusto César foi capaz de reunir a ralé urbana em desespero e os camponeses cansados do domínio de poucos que faziam parte da elite dominante. Lotes de terras eram dados aos soldados desmobilizados e cereais distribuídos à população. “Pão e circo.”
Com Trajano ocorreu o encerramento final das fronteiras imperiais., ocasionando a seca do poço de cativos de guerra que eram a base de sustentação do Império. A renovação de escravos passou a exigir um desembolso pesado demais. Não havia casamentos e o índice de reprodução era baixíssimo devido à maioria de machos. Nem a população rural livre aumentava e a invenção de moinhos pouco ajudou na produção.
A crise no sistema econômico e social, no século III, provocou inflação, guerras civis, invasões estrangeiras e ataques nas fronteiras. Roma teve de sofrer uma reforma em suas fortificações e houve escassez no abastecimento.
Entre o século III e o IV a segurança foi restaurada. O cristianismo passou a ser a religião oficial e uma burocracia clerical juntou-se ao já sinistro aparato secular do Estado. Constantino ampliou bastante o exército, sobrecarregando o Império. Acréscimos militares, políticos e ideológicos suplementares na superestrutura já existente, causaram um retraimento da economia e inverteu o relacionamento centro-periferia. As cidades decaíam por falta de fundos públicos ou investimentos privados, artesãos saíam das cidades, buscando segurança e emprego nas propriedades dos magnatas do campo. Aconteceu a ruralização do Império.
Os proprietários de terras deixaram de se ocupar da manutenção dos escravos, colocando-os em pequenos lotes para cuidarem uns dos outros.Era a servidão dependente do solo, onde as propriedades dividiam-se em explorações nucleares, trabalhadas com o braço escravo ainda, porém, com uma enorme quantidade de camponeses inquilinos ao redor. Os grandes proprietários passaram a patrocinar aldeias de pequenos proprietários e rendeiros livres para proteção contra as arrecadações fiscais e o recrutamento pelo Estado.
“Colonus” foi o nome dado a esse tipo de rendeiro dependente, amarrado à propriedade de seu senhor.




 

A Revolução Constitucionalista






1932 – SÃO PAULO EM GUERRA CIVIL
Alguns aspectos da Revolução Constitucionalista(1)

Hermas Caiuby(2)

RESUMO

Milhares de soldados e voluntários civis participaram da rebelião formada no estado de São Paulo contra o Governo Provisório ditatorial de Getúlio Vargas, lutando em busca de liberdade, democracia e uma nova constituição para o país. O poder político de São Paulo diminuiu após a Revolução de 1930 e o descontentamento motivou a população para o Movimento Constitucionalista com o propósito de restaurar a influência dos paulistas, que tiveram o estado entregue a um interventor “tenentista” de idéias totalitárias. A conspiração organizada por representantes de partidos políticos, oficiais do exército e comandantes da Força Pública não foi restrito somente a São Paulo, repercutiu também com movimentos e manifestações em outros estados. Nosso objetivo foi compilar alguns casos narrados pela historiografia a respeito das ações e vivências, no campo de batalha, dos soldados e voluntários dessa guerra civil.

Palavras-chave: Revolução, Constituição, Guerra Civil, 1932, Constitucionalista.


Nossa Bandeira(3)

Bandeira da minha terra,
bandeira das treze listas!
São treze lanças de guerra
cercando o chão dos paulistas!

Prece alternada, responso
entre a cor branca e a cor preta:
velas de Martim Afonso,
sotaina do padre Anchieta!

Bandeira de Bandeirantes,
branca e rota de tal sorte
que entre os rasgões tremulantes
mostrou as sombras da morte.

Riscos negros sobre a prata:
são como o rastro sombrio
que na água deixava a chata
das Monções subindo o rio...

Página branca pautada
por Deus numa hora suprema
para que um dia uma espada
sobre ela escrevesse um poema:

o poema do nosso orgulho
- eu vibro quando me lembro! –
que vai de nove de julho
a vinte e oito de setembro!

Mapa de pátria guerreira
traçado pela Vitória:
cada lista é uma trincheira,
cada trincheira, uma glória!

Tiras retas, firmes: quando
o inimigo surge à frente,
são barras de aço guardando
nossa terra e nossa gente.

São os dois rápidos brilhos
do trem-de-ferro que passa:
faixa negra dos seus trilhos,
faixa branca da fumaça...

Fuligem das oficinas,
cal que as cidades empoa!
Fumo negro das usinas
estirado na garoa!

Linhas que avançam: há nelas,
correndo num mesmo fito,
o impulso das paralelas
que procuram o infinito.

É desfile de operários...
É o cafezal alinhado...
São filas de voluntários...
São sulcos do nosso arado...

Bandeira que é o nosso espelho!
Bandeira que é a nossa pista!
Que traz no topo vermelho,
o coração do Paulista!

(Poema “Nossa Bandeira”, de Guilherme de Almeida) (4)


Sábado, 9 de julho de 1932, 23 horas e 30 minutos. O general Bertholdo Klinger dá a voz de comando para o início das hostilidades contra o Governo Provisório. Começa uma guerra civil que durou três meses e consumiu a vida de cerca de 830 soldados e civis do lado dos rebeldes paulistas.
A bandeira de uma nova constituição para o Brasil serviu aos interesses elitistas de tentar recuperar seu poderio político, bem como os de todos os insatisfeitos com a centralização do governo Vargas, das nomeações de interventores nos estados e de alguns ministros que não agradaram.
Com entusiasmo, certos de que derrubariam o governo Vargas, os paulistas criaram batalhões e recrutaram a juventude escolar para o serviço de guerra, alcançando cinqüenta mil inscritos. Possuíam perto de quarenta mil fuzis e metralhadoras leves; o armamento que deveria ser comprado em quantidade, por Manoel José Ferreira, nos Estados Unidos, se reduziu, pois aquela nação não reconheceu o estado de beligerância. Mesmo esse material, embarcado no iate “Ruth” e no navio “Jaboatão”, não conseguiu chegar aos revolucionários, porque foi apreendido no litoral paulista. (FROTA, 2000, p. 616).
O porto de Santos foi bloqueado por forças navais do governo e quatro frentes de combate foram abertas. No Vale do Paraíba, sob o comando do coronel Euclides de Figueiredo(5) , os paulistas entrincheiraram-se provocando uma situação estratégica semelhante à da Primeira Guerra Mundial. (FROTA, 2000, p. 617).
São Paulo presumia poder contar com o apoio do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, o que acabou não ocorrendo, ficando sozinho, mas com ampla participação popular, sem idéias de separatismo ou revanchismo, segundo PONTES (2005):
A Revolução Constitucionalista não era revanchista ou separatista como alardeou a propaganda do Governo Provisório para todo o país, a partir do isolamento a que foi relegado o estado de São Paulo logo no início da insurgência, resultado de uma eficiente contra-ofensiva política e militar de Vargas.
No comando dos rebeldes estavam militares que não eram paulistas e não demonstravam pensamentos de separatismo. O que parece ter provocado a revolta foi a entrega de São Paulo por Vargas ao comando dos “tenentes”(6) , na pessoa de João Alberto Lins de Barros, ocasionando o repúdio de políticos que antes haviam-no apoiado. (PONTES, 2005). Os “tenentes” defendiam uma presidência autoritária naqueles anos 30 do século XX quando ditaduras alastravam-se pela Europa: Salazar em Portugal, Franco na Espanha, Mussolini na Itália, Hitler na Alemanha, Stálin na União Soviética. E, na América Latina, o Uruguai era a única exceção. Também se pode incorporar à ocasião, os resultados da crise mundial de 1929, com o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque, suas repercussões pelo mundo e uma queda enorme no preço do café. O governo Vargas comprou sacas do excedente do produto para valoriza-lo e evitar a quebra, mas, também, decretou a proibição de novas áreas de plantio. Isso causou um êxodo rural, com sérias conseqüências sociais, bem como um desagrado geral entre os cafeicultores.
A efervescência do movimento deu-se em 23 de maio, num comício na Praça da República, centro de São Paulo, por uma nova constituição, organizado pela Frente Única Paulista, uma união das forças políticas. Quatro estudantes foram mortos por tenentistas nessa ocasião: Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Camargo de Andrade. E o movimento passa a denominar-se MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo). Comovida com o episódio, a população vai às ruas contra o governo federal e depois é feita a campanha “Ouro para o bem de São Paulo”, com apoio da Associação Comercial, para a doação de jóias com o objetivo de financiar o esforço de guerra. (DIWAN; FARFEL, 2004).

Moeda Paulista

Moeda Paulista, feita só de alianças
Feita do anel com que o Nosso Senhor
Uniu na terra duas esperanças
Feita de tudo o que restou do amor!

Quanto vale essa moeda? Vale tudo!
Seu ouro eternizava um grande ideal
E ela traduz o sacrifício mudo
D’aquela eternidade de metal

Ela que vem das mãos dos que se amavam
Vale esse instante que não tinha fim
Em que dois sonhos juntos se ajoelharam
Quando a felicidade disse Sim.

(Poema “Moeda Paulista”, de Guilherme de Almeida) (7)

O MMDC, além dos estudantes recrutados, contou com a participação de negros, índios, imigrantes italianos e mulheres. Imagem tirada da Revolução Francesa, Mariana, envolta pela bandeira paulista, passou a simbolizar os ideais constitucionalistas, segundo Marco Antônio Vila, já anteriormente referido. De acordo com DIWAN e FARFEL (2004), “motivadas pelo sentimento de defesa de seu estado, cerca de 135 mil pessoas (soldados e voluntários civis) uniram-se na luta armada e no esforço de guerra”.

O Passo do Soldado

Marca o passo, soldado! Não vês
Que esta terra foi ele que fez
Que o teu passo é o compasso seguro
De um passado, um presente e um futuro

Vê soldado que grande tu és!
Tua terra se atira a teus pés!
E estremece de orgulho! Ergue os braços:
Ergue os braços de poeira aos teus passos

Marcha, soldado paulista!
Marcha o teu passo na História!
Deixa na terra uma pista
Deixa um rastilho de glória!

(Poema “O Passo do Soldado”, de Guilherme de Almeida)

Os batalhões eram organizados por categorias específicas: comerciários, universitários, operários, esportistas (Friedenreich, chamado em 1925 de “rei do futebol”, estava lá), ferroviários, funcionários públicos e professores. Também pela etnia: italianos, portugueses, espanhóis, sírio-libaneses, alemães, ingleses e índios guaranis. Em uma quinta-feira, 14 de julho, foi formada a Legião Negra, com aproximadamente 3500 combatentes. Conhecidos popularmente como “Pérolas Negras”, usavam chapéu de abas largas no uniforme. Mulheres faziam os serviços de retaguarda e sabe-se de cinco casos de negras como soldados. Como informa DOMINGUES (2004), “Maria Soldado” mereceu, pelos seus feitos, o seguinte comentário no jornal “A Gazeta”, em 5 de setembro de 1932:

Uma mulher de cor, alistada na Legião Negra, vencendo toda sorte de obstáculos e as durezas de uma viagem acidentada, uniu-se aos seus irmãos negros em pleno entrincheiramento na frente do sul, descrevendo a página mais profundamente comovedora, mais profundamente cheia de civismo, mais profundamente brasileira, da campanha constitucionalista, ao desafiar a morte nos combates encarniçados e mortíferos para o inimigo. Maria da Legião Negra! Mulher abnegada e nobre da sua raça! (8)

Ocorreram manifestações de apoio de estudantes em Salvador e no Rio. Em Belém, o centro da cidade foi ocupado durante dois dias por universitários e estudantes do ensino médio. No Rio Grande do Sul, 300 homens lutaram no interior, sob o comando de Borges de Medeiros, perseguidos pelas tropas federais. Dois portos fluviais foram tomados por rebeldes em Mato Grosso e, no Rio de Janeiro, militares esperavam pela chegada dos paulistas para lhes dar apoio. (PONTES, 2005).
As tropas paulistas possuíam 2 aviões Potez, 4 Waco e 1 Nieuport. Em agosto compraram 9 aviões Curtis Falcon no Chile, os quais foram trazidos por pilotos chilenos e norte-americanos. Em toda a América, foi a primeira vez que o avião entrou em combate como arma militar(9) e decidiu com peso fundamental na balança para o lado do governo. A cidade de Campinas foi intensamente bombardeada e as filhas de famílias da classe média foram evacuadas para São Paulo, ficando alojadas especialmente na Universidade Mackenzie, de acordo com fontes orais de pessoas que viveram nessa época e dentro desse conflito.
Roberto Simonsen, presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e professor da Escola Politécnica, com o apoio de estudantes da classe média, transformaram as indústrias e os laboratórios da Escola em fábricas de armamentos, numa mobilização com recrutamento de instalações, máquinas e pessoas. O LEM – Laboratório de Ensaios e Materiais da Escola Politécnica hoje é o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT-USP), referência em tecnologia. Por eles foram produzidos trens blindados, lança-chamas, lança-minas, morteiros, granadas e munições. (MARANHÃO, 2004).
Uma grande operação foi efetuada na fortaleza de Itaipu, onde soldados paulistas levaram canhões costeiros e deixaram “cavalos-de-tróia” (simulacros de madeira, chapas de metal e papelão) em seu lugar, para enganar a armada federal que bloqueava o litoral paulista, sempre à distância, receosa de ser atingida por eles. Esses canhões circularam pelos fronts Leste e Sul, em plataformas da Estrada de Ferro Sorocabana, apelidados respectivamente de Catarina e Clotilde. (DE PAULA, 2005).
Em 1º de outubro ocorreu a rendição dos rebeldes, diante da inferioridade gritante frente às forças do Governo Provisório. Os líderes foram expatriados para a Europa. Segundo FROTA (2000): “os paulistas perderam no campo de batalha, mas ganharam na paz”. Armando Sales Oliveira, um civil e paulista, é nomeado por Vargas como interventor e, algum tempo depois, Vargas participa da inauguração da Avenida Nove de Julho, uma das mais importantes da cidade de São Paulo.
Mas, quem teriam sido os derrotados? Que oligarquia teria perdido sua influência? Todos eram contra Getúlio Vargas em São Paulo?
A tristeza de uma guerra, desta e de qualquer outra é a fragilidade dos que mais perderam com ela: criações, casas e plantações de pequenos agricultores; inválidos e mutilados; mulheres que perderam maridos e filhos. O estado de São Paulo assumiu parte da responsabilidade, no entanto, alguns prejudicados nada receberam, entre eles os negros. (DOMINGUES, 2004).
“A Gazeta” de 17 de agosto de 1932: “A Legião Negra terá, indiscutivelmente, o seu nome gravado com letras de ouro na história da epopéia Piratininga”. (DOMINGUES, 2004).
Que ilusão!
Todo dia Nove de Julho, em São Paulo, autoridades públicas comparecem ao desfile militar e às homenagens aos combatentes de 1932. No Parque do Ibirapuera, além de um museu dedicado ao movimento, o obelisco, tendo abaixo um panteão onde estão sepultados os soldados, exibe altos-relevos dessa guerra. Porém, a Legião Negra e nenhum dos Pérolas Negras são lembrados.
Além de ser uma coisa torpe e repugnante por todo sofrimento que causa, a guerra nunca faz justiça com aqueles que mais se envolvem nela, isto é, os soldados, combatentes na linha de frente e que morrem sem ser lembrados por sua dedicação. Não só a Legião Negra, mas muitos outros excluídos da história são esquecidos nas homenagens públicas e nas páginas de muitos livros.
Os sacrifícios da Revolução Constitucionalista não foram inúteis. Realizadas em 1933, as eleições para a Assembléia Nacional Constituinte trouxeram um breve período de democracia. Nessas eleições, pela primeira vez no Brasil, ocorreu o voto feminino. O país passou, então, depois de promulgada em 1934, a ter uma Constituição, substituindo a anterior, rasgada por Getúlio Vargas que governava através de decretos. Apesar de estar prevista a data dessas eleições antes mesmo da Revolução Constitucionalista, é bem possível que elas não tivessem ocorrido sem a pressão desse movimento, pois as intenções de Vargas ficam bem claras em 1937, com o Estado Novo: uma ditadura fascista nos moldes europeus.


REFERÊNCIAS

CARONE, Edgard. A segunda república (1930-1937). Rio de Janeiro – São Paulo: Difel, 1978.

_______________ . Revoluções do Brasil contemporâneo: 1922-1938. São Paulo: Ática, 1989.

DE PAULA, Jeziel. Os canhões rebeldes. Nossa História, São Paulo, ano 2, n. 21, p.48-51, jul. 2005.

DIWAN, Pietra; FARFEL, Nicolas. Um Estado em luta: São Paulo, o campo de batalha durante a revolução de 1932. História Viva, São Paulo, ano I, n. 8, p. 20-21, jun. 2004.

DOMINGUES, Petrônio. A legião negra. Nossa História, São Paulo, ano 2, n. 21, p. 52-54, jul. 2005.

FROTA, Guilherme de Andrea. 500 anos de História do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2000.

MARANHÃO, Ricardo. Ideais e tecnologia na revolução de 1932. História Viva, São Paulo, ano I, n. 8, p. 82-87, jun. 2004.

PONTES, José Alfredo Vidigal. Sangue brasileiro. Nossa História, São Paulo, ano 2, n. 21, p. 45-47, jul. 2005.

1- Artigo apresentado à disciplina História do Brasil (século XX), sob orientação da profa. Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes.
2- Aluno de Graduação em História do Departamento de Educação – Campus X/UNEB, Teixeira de Freitas, Bahia.
3- Neste poema, Guilherme de Almeida coloca todas as idéias enraizadas na cabeça dos paulistas, como a locomotiva que carrega o resto do Brasil em suas costas. Conta aspectos de uma história considerada por eles de grandeza desde o padre Anchieta aos revolucionários pela constituinte, passando pela interiorização territorial conquistada pelos bandeirantes. Relata como glória o sofrimento nas trincheiras durante a Revolução pelo ideal maior da democracia e da liberdade constitucional.
4- O Guilherme de Almeida (1890-1969), apelidado de “o poeta da Revoloução”, bem como outros intelectuais como Mário de Andrade, lutaram nas trincheiras. Oswald de Andrade, irmão de Mário, também participou através de artigos em jornais e declarações em rádio, sem ir à linha de frente, conforme disse Marco Antônio Vila, em entrevista ao Programa do Jô, na Rede Globo, em 22/07/ 2009).
5- Pai do último general-presidente durante a ditadura militar que terminou em 1985.
6- “Tenentes” eram os integrantes de rebeliões militares que aconteceram na década de 1920.
7- Guilherme de Almeida, com toda sua contribuição artística, sensibiliza neste poema, o sacrifício de milhares de casais que doaram suas alianças de casamento, símbolos de seu amor um pelo outro, para o seu amor à terra paulista.
8- Observe-se que apesar de ser um elogio, enaltecendo as ações de “Maria Soldado”, a segregação encontrava-se apegada à cultura da sociedade com termos como “mulher de cor”, “uniu-se aos seus irmãos negros” e “mulher abnegada e nobre da sua raça”.
9- Possivelmente por essa razão, Santos Dumont suicidou-se, em 23 de julho de 1932, no Hotel La Plage, no Guarujá. (FROTA, 2000).

 

1932




terça-feira, agosto 10, 2010

 

O Papel da Igreja Católica na América





Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas – Depto. de Educação
Curso: História IV
Disciplina: América Colonial
Docente: Profa. Kylma Marluza Luz Kramm
Acadêmico: Hermas Braga Dale Caiuby
19/01/2009

O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA NA AMÉRICA

A Igreja Católica na América Espanhola Colonial. In Bethell, Leslie (org.). América Latina Colonial, vol I.

No artigo acima referido, o autor relata o que ele chamou de “transplantação” e depois , a “consolidação” da Igreja Católica na América espanhola, com todas as polêmicas e contradições ocorridas durante o passado colonial.
Inicialmente são analisados os acontecimentos daquele período, com a Reconquista da Península Ibérica e expulsão dos muçulmanos, culminando em 1492 na vitória sobre os mouros em Granada, seu último reduto. Nesse mesmo ano Colombo chegava à América pela primeira vez e a força da monarquia espanhola, com os reis católicos Fernando e Isabel, de Aragão e Castela, era incontestável.
O direito divino dos reis integrava a sua inegável soberania absoluta e nisso estava incluído o “patronato sobre a Igreja”, com a transferência de poderes à coroa feita por Roma, em um nível nunca antes visto na Europa. Os cargos eclesiásticos eram de indicação da coroa e as comunicações pontifícias com as Índias eram controladas, ficando a Espanha, também a seu cargo, com todas as despesas de pessoal, clérigos, construções de igrejas e tudo o mais de que necessitassem as obras missionárias, utilizando para esse fim os recursos obtidos com a cobrança do dízimo sobre produtos agropecuários.
A Igreja sujeitava-se aos interesses da monarquia espanhola (inclusive em questões conflituosas a respeito do tratamento aplicado aos indígenas) por diversas razões, algumas delas indicadas pelo autor, como: as influências do Renascimento na política da Europa, os movimentos protestantes da Reforma, falta de recursos para a cristianização das novas terras conquistadas.
A “encomienda” era um sistema de distribuição da mão de obra indígena entre os colonos, apesar de não serem os índios, em teoria, considerados escravos. Este foi um ponto polêmico na colonização, denunciado como ato de crueldade pelo frade Antônio de Montesinos e combatido em defesa dos índios, pelo frade Bartolomé de Las Casas, até o final de sua vida.
Ao contrário de outras opiniões, o autor refere-se ao Concílio de Trento (1545-1563) como de influência fundamental na Igreja das Índias. Fruto disso foram as missões da Companhia de Jesus, fortemente arraigada à hierarquia romana e ao modelo de evangelização determinado pelo Concílio. Resistentes à autoridade da coroa, os jesuítas tiveram um papel de suma importância na área da educação e na formação de consciências.
Do Concílio de Trento veio a forma de organização com uma maior determinação de poder aos bispos. Da conquista militar surgia a formação das dioceses e a conquista espiritual. As dioceses funcionavam com autonomia como centros para a administração e para tratar dos assuntos eclesiásticos. A base de tudo situava-se na paróquia, com sua missão pastoral de transmissão e proteção da fé para os espanhóis. Aos nativos existiam as “doctrinas” com a tarefa de converter e trazer a civilização.
As ordens religiosas exerceram total influência nos trabalhos de evangelização do Novo Mundo, grande parte delas fundadas na América e, em especial, as ordens femininas, estas, porém, somente voltadas à vida monástica e contemplativa.
Dentro do controle da doutrina, a Inquisição foi implantada na América com tribunais para julgar idolatrias, judaísmo, feitiçaria, protestantismo e desvios sexuais, no entanto, sem autoridade sobre os índios. As rebeliões de escravos também foram abarcadas por esses julgamentos.
Conforme relata o autor do artigo, a partir de 1808-1810, no início das guerras de independência, o baixo clero, formado por crioulos (os nascidos na América), não tinha credibilidade da coroa e estavam contrariados com o monopólio dos postos eclesiásticos para os peninsulares. Exerceram eles uma posição influente nas revoluções pela independência.
Finalizando, o autor diz que a autoridade do estado sobre a Igreja sobreviveu, continuando o “patronato” com os governantes das novas repúblicas estabelecidas.
Muito interessante o artigo, trazendo informações não muito conhecidas fora do mundo acadêmico, sobre a preponderante dominação da Igreja Católica pela coroa espanhola durante a colonização da América.

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