sábado, agosto 16, 2008

 

Helvécia: Cultura Afro-Brasileira no Extremo Sul Bahiano




Universidade do Estado da Bahia - Uneb
Campus X
História/2007.2

HELVÉCIA: CULTURA AFRO-BRASILEIRA NO EXTREMO SUL BAIANO.
Cláudia Coelho
Elane Carvalho
Elizabete Saldanha
Hermas Caiuby
Janaína Rios

Orientadora: Profa. Dra. Liana Gonçalves Pontes Sodré

Teixeira de Freitas
2008

RESUMO

Este projeto está voltado para a análise de manifestações da cultura afro-brasileira entre os descendentes de escravos na comunidade de Helvécia, no município de Nova Viçosa, Extremo-Sul da Bahia, através de um estudo descritivo com entrevistas, filmes e fotografias, à procura de formas de atuar, refletir e vivenciar essas manifestações. Com este tipo de abordagem o conhecimento histórico, social, político e cultural possibilitará a aproximação e o contato real entre professor-aluno e a cultura afro-brasileira, tão intrínseca em toda sociedade e na formação do povo brasileiro, como também despertará o interesse, a curiosidade e a consciência da contribuição fundamental do negro na história do nosso país e a irracionalidade do preconceito, da discriminação e do racismo.

PALAVRAS-CHAVE

Afro-brasileiros, cultura, escravidão, quilombos, quilombolas, negritude, etnicidade, questões raciais, afro-descendentes, remanescentes dos quilombos.

SUMÁRIO

Apresentação

Revisão da Literatura

Método
Local
Sujeitos
Recursos
Procedimentos

Cronograma

Referências

APRESENTAÇÃO

As “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais Afro-brasileiras e Africanas” (BRASIL, 2003), destacam a importância do negro na formação da nossa sociedade e incentivam ações que visem analisar o preconceito e a discriminação racial.
Em vista disso, pretendesse com o presente trabalho ressaltar alguns aspectos atuais da cultura afro-brasileira, com o propósito de desenvolver um estudo sobre a presença dessa cultura na região do Extremo Sul da Bahia. Existem comunidades na referida região, com população de descendência africana, que mostram uma rica cultura de origem negra na qual será possível relacionar as raízes do passado com os nossos dias atuais, problematizando a realidade histórica como alternativa para despertar o interesse pelas contribuições dessa cultura na história de nosso país.
Em um levantamento efetuado junto às escolas publicas e privadas dos municípios de Prado, Alcobaça, Teixeira de Freitas e Posto da Mata, constatou-se absoluta desmotivação de professores e alunos do ensino básico em relação ao ensino-aprendizagem de história, devido a distancia entre o que é transmitido nas aulas com a realidade vivida pela criança e adolescente em seu dia-a-dia.
O ensino aplicado nas escolas atualmente encontra-se alhea à realidade tanto do professor quanto do aluno. O educador esbarra inicialmente com falta de material didático e a reduzida carga horária. Mesmo assim, dispõe-se a desenvolver um trabalho desafiador. O segundo, o educando, por sua vez desmotivado questiona-se sobre a utilidade do aprendizado de História.
Esse trabalho acadêmico despertou o interesse por uma pesquisa que possa
contribuir para minimizar esse quadro e que sirva como opção para um modo diferente
do manuseio dos conteúdos historiográficos. Para tanto se verificou a relevância de ater-se, não só no aspecto social local, mas também aspectos científicos, desenvolvendo estudos que talhem a importância da cultura afro na sociedade brasileira, com destaque para o distrito de Helvécia, localizado na região do Extremo Sul da Bahia.
Apesar das inúmeras conseqüências deixadas pelo sistema escravocrata que perduraram através dos séculos, entre os quais se pode citar, por mais efeito destrutivo, o preconceito racial, a memória coletiva negra tornou-se uma realidade no Brasil. Preservou-se assim, uma parte significativa da herança africana, que sem duvida já contribui na formação da cultura brasileira.
A cultura afro, apesar de possuir particularidades valiosas e terem aspectos presentes e miscigenados em outras sociedades, sofre grande descriminação. No Brasil, desde o período colonial os negros são subjugados como seres inferiores, de cultura pagã considerada incapaz e desmerecedores de inclusão em uma nação em processo de formação.
Estando presente em nossa realidade a cultura afro teve origem com os ancestrais de nossa atual população, que esquecidos passam apenas a ser mais um em nossa sociedade. Assim, despertar o interesse e a curiosidade, bem como a consciência da contribuição fundamental do negro na história de nosso país e a curiosidade irracionalidade de qualquer tipo de racismo, discriminação ou preconceito tornou-se o foco do presente estudo que visa interar aluno-professor e a realidade com a história.
Acredita-se que com um estudo metódico da comunidade de Helvécia, será possível encontrar formas de atuação e reflexão a fim de vivenciar a cultura afro-brasileira tão intrínseca a toda sociedade. Essa abordagem favorecerá o conhecimento histórico, social, político e cultural que perduram ao longo do tempo. Pois se acredita que a aproximação dessa comunidade possibilitará um contato concreto entre professor-aluno e a cultura afro-brasileira.
Esse contato beneficiará a produção do conhecimento e a desmistificação de conceitos pré-concebidos desde o período colonial que tem dificultado as relações sociais e contribuído para uma sociedade individualista e preconceituosa.

REVISÃO DA LITERATURA

Por muito tempo a ausência de políticas publica voltadas á cultura afro na escola provocaram prejuízos e lacunas enormes na construção e disseminação de uma cultura coletiva que reconhecesse e promovesse a inclusão dos afros em todos os seguimentos da sociedade. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais:

Reconhecimento implica justiça e iguais direitos sociais, civis, culturais e econômicos [...] E isto requer mudanças nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos, posturas modo de tratar as pessoas negras. Requer também que se conheça a sua história e culturas apresentadas, explicadas, buscando-se especificamente desconstruir o mito da democracia racial na sociedade brasileira; mito que difunde que, se os negros não atingem os mesmos patamares que os não negros, são por falta de competência ou interesse, desconsiderando as desigualdades seculares que a estrutura social hierárquica cria com prejuízos para os negros (BRASIL, 2003 p.11).

O mito da democracia racial na sociedade brasileira forjou uma situação pacifica e cômoda. Os afro-brasileiros passaram a acreditar em uma incompetência genética e os brancos em sua superioridade. Essa lei coloca em questão o que até então era indiscutível, procura incluir os negros no seio da sociedade. Por ser uma lei jovem de nível nacional não se sabe como tem sido incorporada nos currículos escolares, mas com sua outorgação a sociedade brasileira tem deliberado com maior precisão é sobre os direitos sociais, civis, culturais e econômicos abrangentes a toda sociedade.
É importante salientar que reparar anos de exclusão não será possível sem políticas publicas a nível nacional, estadual e municipal, mas a complexidade que envolve esse tema não pode impedir o planejamento de programas, projetos e ações que visem reverter o quadro de uma cultura excludente e discriminatória que tem determinado comportamentos, idéias e intenções de grupos sociais.

A atuação consciente do professor e da professora em sala é fundamental para concretizar tais pensamentos, pois são eles e elas que tornam o conhecimento palpável, acessível a negros e brancos e fazem refletir sobre a igualdade de direitos.

Por isso, a construção de estratégias educacionais que visem ao combate do racismo é uma tarefa de todos os educadores, independentemente do seu pertencimento étnico-racial.
Pedagogia de combate ao racismo e a discriminação elaborada com o objetivo de educação das relações étnico/raciais positivas tem como objetivo fortalecer entre os negros e despertar entre os brancos a consciência negra (BRASIL, 2003 p.16).

Preservou-se assim, uma parte significativa da herança africana, que sem duvida já contribui na formação da cultura brasileira.
Estão espalhadas pelo Brasil muitas comunidades remanescentes de quilombos, as quais têm recebido a titulação de suas terras e muitas delas são pouco conhecidas mesmo no contexto regional. Ratts (RATTS, 2006) trata de uma série de estudos já realizados e em andamento, a respeito dessas comunidades de descendentes de escravos negros, os afro-brasileiros, e o seu reconhecimento no território brasileiro para identificação e regularização da propriedade das terras em que vivem. Os agrupamentos e redutos de negros escravizados fugitivos, como também eram chamados os quilombos estão acima da noção desse termo, segundo o autor, com diferentes e complexas formações nas diversas regiões do Brasil.
Para Ratts, a grande quantidade de estudos e pesquisas coloca os quilombos em nível próximo da situação dos povos indígenas no nordeste quando ao interesse de cientistas, bem como com relação às expectativas de direitos, através do artigo 68 da Constituição Federal de 1988.
O autor acrescenta ainda que ausentes dos livros didáticos os quilombos passe a ser considerados não somente como algo longínquo do passado, mas que estão presentes em todos os lugares e não mais com tempo e espaço determinados.
Fonseca (2006) apresenta diversos artigos relacionados à cultura e às questões sobre descendentes de escravos negros no Brasil, os afro-descentes, com o objetivo de incentivar uma maior discussão sobre os conflitos étnico-raciais e as diferenças verificadas em nossa sociedade. Nos diferentes estudos ele nos mostra que apesar do Brasil ser um país mestiço a população afro pode ser percebida e as influências negras encontram-se em uma memória cultural de diferentes aspectos: livros, cultos, arte,
pesquisas etnográficas e criação literária.
Em função da dificuldade de se auto afirmar e legitimar a cultura afro na individualidade, assim como de forma coletiva, o individuo se abstrai, nega sua cor,cultura e origens.Essa negação de identidade provoca naturalmente e de forma gradual manifestações preconceituosas.
Ferreira (2004) entende por identidade um processo dinâmico em torno do qual o individuo se referência constrói a si e a seu mundo, bem como desenvolve um sentido de autoria.
Em um país marcado pela escravidão não fica difícil aos descendentes afros se auto-perceberem como frutos de uma cultura tida como inferior. O fator histórico, social e político construíram uma sociedade excludente discriminatória e individualista. Diante disso, a identidade fica comprometida, ser autor dessa história é lutar contra conceitos e percepções outorgadas na sociedade como os únicos aceitáveis. Significa mergulhar no seu eu e buscar referências suas origens e não mais basear sua identidade em pareceres infundados em visões rodeadas de equívoco e pareceres pessoais de uma classe que se autodenomina superior.
O conceito de quilombo e suas questões políticas dentro do problema da exclusão social são abordados por Ilka (2008) demonstrando a ligação com aspectos da evolução de nossa cultura e valores de cidadania. Comenta a respeito da regulamentação do artigo 68 da Constituição Federal e dificuldades impostas com o objetivo de paralisar o processo, bem como as dificuldades na conceituação de quilombo e quilombolas. Ilka traça um breve histórico da resistência negra no Brasil colônia, a continuidade após a república e a repressão sofrida para a expulsão de espaços ocupados legalmente e ocupação por outros com maior influência sobre o Estado. Ela comenta sobre a similaridade com a questão indígena para demarcação de terras e o questionamento do direito à prática de costumes e tradições aos negros e ao reconhecimento da posse legal de terras.
Arruti (2008) enfoca a inter-relação de cultura e política para analisar questões da terra para os “remanescentes de quilombos”. Ele destaca a interferência na política de fatores étnicos e culturais favorecendo um melhor entendimento no debate de posições opostas.

MÉTODO

O presente projeto consiste na elaboração de um estudo descritivo enfocando a comunidade de Helvécia, nos seus aspectos culturais afro-brasileiros lá existentes e que contribuíram para caracterizar a descendência de ex-escravos negros entre seus habitantes. Trata-se, portanto de um estudo de caso, com o objetivo de procurar relacionar os acontecimentos históricos vivenciados por ex-escravos a partir da observação de manifestações afros e sua presença na vida diária da região.
De acordo com Gil (2002, p. 138) no planejamento deste estudo, ”tal delineamento torna-se recomendável exatamente para proporcionar maior nível de profundidade, para transcender ao nível puramente descritivo proporcionado pelo levantamento”.

Local:
O estudo será realizado na comunidade de Helvécia, localizada no município de Nova Viçosa, no Extremo Sul da Bahia, com visitas a pessoas da sociedade, lideranças e entidades sócio-culturais.

Sujeitos
Recorreremos a alguns sujeitos da localidade que atuarão como informantes do estudo. Estes sujeitos serão escolhidos a partir dos seguintes critérios: ser natural da localidade, ter mais de 40 anos e que sejam indicados pela sociedade organizada local. Os entrevistados, portanto, serão pessoas da comunidade de Helvécia que tenham vivenciado práticas culturais transmitidas pela oralidade, por músicas, festas, ou seja, pelas diferentes expressões culturais que identificam a origem de uma população. Para tanto, pretendemos visitar instituições sociais do local para cadastrar estas pessoas.

Recursos
Utilizaremos como instrumento de pesquisa, entrevistas escritas e filmadas com cidadãos daquela comunidade e fotografadas de diversos aspectos do cotidiano envolvidos na realidade afro-brasileira.

Procedimentos
- Inicialmente vamos procurar algumas instituições para identificar e cadastrar os sujeitos que serão entrevistados;
- Elaborar o Roteiro de Entrevista;
- Testar o Roteiro de Entrevista junto a uma outra população para analisar a pertinência das questões;
- Aplicar os Roteiros de Entrevistas junto aos sujeitos identificados.
- Registrar festas e eventos culturais com filmadoras digitais para facilitar as análises das práticas culturais;
- Efetuar a tabulação e a análise dos dados produzidos.

CRONOGRAMA

Revisão da literatura
Produção dos dados
Análise e discussão dos dados
Elabora-
ção do relatório final

REFERÊNCIAS

FONSECA, Maria Nazareth Soares, (org) Brasil Afro-brasileiro, 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

FERREIRA, Ricardo Franklin, Afro-descendentes: identidade em construção, São Paulo: EDUC; Rio de Janeiro: Pallas, 2004.

RATTS, Alecsandro j.p. (re) Conhecer Quilombos no Território Brasileiro, In: FONSECA, Maria Nazareth Soares. Brasil Afro-Brasileiro. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.p.307-326.

GIL, Antônio Carlos, 1946. Como Elaborar Projetos de Pesquisa, 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

ARRUT, José Maurício. De Como A Cultura Se Faz Política E Vice-Versa: Sobre, Religiões, Festas, Negritudes E Indianidades No Nordeste Contemporâneo. Disponível em: http://www.aguaforte.com/antropologia/a10-jmauricio.pdf. Acesso: 12.maio.2008, 11:40h.

LEITE, Ilka Boaventura. Os Quilombos No Brasil: Questões Conceituais E Normativas. Disponível em: http://www.ceas.iscte.pt/ /etnografia/docs/vol_04/N2/vol_iv_M2_333-354.pdf. Acesso: 12.maio.2008, 11:20h.

OLIVEIRA, Osvaldo Martins. Os Quilombos E Processo de Ressemantização. Tese de Doutorado do autor, 2000.

Comments:
parabens esta otimo isto!!!
 
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