quarta-feira, outubro 13, 2010

 

Winston Churchill




"Os pessimistas veem dificuldades nas oportunidades. Os otimistas veem oportunidades nas dificuldades."
Autor: Winston Churchill

domingo, agosto 15, 2010

 

Uma Professora Muito Maluquinha


Linda amável, encantadora e cheia de novas idéias para manter a classe animada.
Para ela, estudar é muito importante. E mais importante que estudar é ler. Ler e ler muito.

Genial personagem do genial Ziraldo.

História divertida que tem tudo a ver comigo, um professor muito doido.
Este livro foi a mim recomendado pelo meu colega, no Colégio Eraldo Tinoco, professor Marcos, em 2007. Ele disse-me que as idéias da personagem são iguais às minhas.
E são mesmo!

 

A Transição para o Feudalismo













Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas – Depto. de Educação
Curso: História III
Disciplina: História Antiga e a Formação do Ocidente Medieval
Professora: Dilma Filgueiras de Santana Oliveira
Acadêmicos: Ana Paula, Cláudia Coelho, Elane Carvalho, Hermas Caiuby, Ítala Naira, Janaína Rios, Patrícia Oliveira, Renato, Tássio
12/10/2008



A TRANSIÇÃO PARA O FEUDALISMO



Anderson, Perry. Passagens da Antigüidade ao Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 2004.

Faremos, a seguir, um resumo do capítulo 1 – Antigüidade Clássica, da primeira parte do livro acima citado, com as opiniões e interpretações do autor a respeito da civilização greco-romana e das transformações econômicas e sociais na Europa Ocidental durante o declínio e a queda do Império Romano.
A distinção existente entre Europa Ocidental e Europa Oriental ficou consolidada na historiografia moderna a partir da época pós-clássica, com o advento do feudalismo, diferenciando as sociedades existentes no continente com a exclusão dos eslavos do Leste, cujas condições econômicas seriam objeto de estudos em separado.
Os antecedentes do modo de produção feudal foram o modo de produção escravo e os modos primitivos dos invasores bárbaros germânicos adaptados às novas regiões por eles conquistadas.
A economia escravagista, criada com maneiras próprias pelo universo greco-romano, foi a importante base para suas tantas ações e idéias avançadas, bem como para o seu colapso final. As cidades-Estado gregas foram que primeiro implantaram uma maneira sistemática de escravidão absoluta, considerando o trabalho uma iniqüidade para o ser humano. No Império Romano, a classe dominante repudiava o trabalho sob qualquer forma, mesmo as funções tipo executivas, delegando a escravos, também, os serviços administrativos.
Beneficiada pelo Mediterrâneo, a civilização clássica foi colonialista, com cidades-Estado nas regiões litorâneas, as quais centralizavam a população rural ao seu redor. Os escravos, adquiridos pelas guerras de conquistas, liberavam do trabalho no campo os cidadãos, que, assim, podiam participar ativamente dos negócios de Estado e do exército em novas batalhas para mais aquisições de escravos.
As cidades-Estado helênicas já existiam anteriormente à época clássica, não sendo deixada disponível nenhuma fonte escrita desse período. Após a destruição da civilização micênica, veio a Idade das Trevas, retratada somente pelos poemas homéricos e foi na época seguinte, da Grécia arcaica, que a evolução urbana começou com seus primeiros passos. Monarquias foram derrubadas e o domínio das aristocracias consolidou-se. A evolução das cidades-Estado para sua forma clássica foi gradativa e em diferentes velocidades conforme a região. Fases intermediárias com tiranos no poder trouxeram avanços na legislação e nos exércitos. Entretanto, a escravidão implantada de maneira extremamente volumosa, onde o número de escravos chegava a ultrapassar o de cidadãos, foi essencial para a grande escalada da civilização clássica grega.
Sem o trabalho escravo, não existiria o ócio dos cidadãos livres em Atenas e Esparta, para os avanços do modo de vida urbano. Foi pelo ócio que subiu a patamares tão altos as artes como o teatro, literatura, escultura e arquitetura, a filosofia com seus diversos ramos do conhecimento, a política, a democracia participativa, o voto, a economia, a retórica, o debate, a administração. O preço de um escravo era muito baixo, possibilitando de possuí-los até aos camponeses e artesãos mais pobres.
No século V a.C. generalizou-se entre as cidades-Estado gregas um padrão político que consistia em um Conselho menor que propunha os assuntos a serem decididos e votados por uma Assembléia maior. As variações na composição de cada um desses órgãos definiam o grau de democracia ou oligarquia da cidade. Os primeiros registros de entidades democráticas na Grécia clássica são da cidade de Quios, no século VI a.C.. Em Atenas, com as reformas de Sólon e uma legislação deixada por Clístenes, acabando com diferenças tribais e ampliando o poder da Assembléia popular, ficou praticamente consolidada a democracia participativa.
No início do século V a.C., após tempos de incessantes conflitos entre as cidades-Estado e depois da vitória contra os persas, a era de Temístocles e Péricles trouxe a possibilidade de unificação da península balcânica com o aumento vertiginoso do poder ateniense. A Liga de Delos, criada para combater os persas, era formada por cerca de 150 cidades que pagavam um tributo ao tesouro central situado em Atenas. Essas cidades eram proibidas de manter frotas, ficando assim dependentes de proteção. O tesouro financiou diversas obras estéticas na cidade, inclusive o Partenon. Na península Ática existiam as mais produtivas minas de prata da Grécia, que chegaram até a financiar a frota ateniense que derrotou os persas na batalha de Salamina e tornou possível a circulação de moedas em um sistema monetário que trouxe um grande desenvolvimento comercial para Atenas. Unindo ainda a isso para a formação desse Império Ateniense, o fato de inexistência, nessa época, de conflitos sociais, com poucas grandes propriedades, diversificadas em pequenos lotes, sem um latifúndio localizado num mesmo lugar.
As cidades da Liga de Delos, sob o domínio de Atenas, foram obrigadas a adotar o sistema democrático de governo, o que causou revolta das oligarquias dominantes. A Liga Espartana reunia cidades numa confederação de oligarquias. Acrescido isso ao temor pelo poder acumulado por Atenas, foi desencadeada a Guerra do Peloponeso, a qual necessitou de ouro dos persas para financiar uma frota espartana. E, finalmente, Lisandro derrubou o Império Ateniense.
Nunca mais as cidades gregas tiveram a oportunidade de uma unificação na península balcânica.
A Macedônia, atrasada, arcaica, é que formou um império, inicialmente com Filipe II dominando totalmente as cidades gregas, com o uso de técnicas militares diferentes. O Império Macedônio, ocupando o espaço entre o Adriático e o Índico, ficou dividido, após a morte prematura de Alexandre, entre seus generais. Construiu um sincretismo assimilando a cultura grega e padrões asiáticos, produzindo, assim, a civilização helênica. As conquistas de Alexandre não eram seguidas de escravização, a qual nunca foi economicamente importante no Oriente Próximo. Rodes, Antióquia e Alexandria formaram um eixo centralizador do comércio.
Esse eixo sofreu um deslocamento geográfico em seu centro de gravidade após a ascensão de Roma.
Com um início monárquico, Roma tornou-se uma República, dominada pelo senado, constituído por uma nobreza hereditária de clãs de patrícios.
Em 366 a.C., plebeus enriquecidos formaram o Tribunato da Plebe, com o objetivo de proteger os pobres. Na polarização social da propriedade da terra, os assentados formavam a infantaria das legiões e morriam aos milhares. Os proletários aglomeravam-se nas cidades, sem propriedade, oferecendo ao Estado somente os filhos, a prole. No interior, vastos domínios dos nobres, enquanto as cidades tinham uma massa proletarizada. A distribuição pública de cereais substituía a distribuição de terras.
A escravidão, em Roma, era o modo de produção organizado. Roma estava atrelada à escravidão sem possibilidades de qualquer outra alternativa que não causasse o risco de dissolução do Império.
A aristocracia senatorial fez fortunas com os saques pelo Mediterrâneo, enquanto os legionários recebiam um vil pagamento e eram sumariamente demitidos. Isso causou um desvio na lealdade militar, do Estado para o general que distribuía benefícios.
O populacho, antes manipulado pelos nobres contra os reformadores agrários, no século II a.C. escapou à tutela senatorial e demonstrou um grande entusiasmo por César em sua entrada triunfal em Roma, para tornar-se ditador.
Após o assassinato de César e a ascensão de seu sobrinho Augusto, a República foi definitivamente sepultada em Roma. Iniciava-se o Império, onde Augusto César foi capaz de reunir a ralé urbana em desespero e os camponeses cansados do domínio de poucos que faziam parte da elite dominante. Lotes de terras eram dados aos soldados desmobilizados e cereais distribuídos à população. “Pão e circo.”
Com Trajano ocorreu o encerramento final das fronteiras imperiais., ocasionando a seca do poço de cativos de guerra que eram a base de sustentação do Império. A renovação de escravos passou a exigir um desembolso pesado demais. Não havia casamentos e o índice de reprodução era baixíssimo devido à maioria de machos. Nem a população rural livre aumentava e a invenção de moinhos pouco ajudou na produção.
A crise no sistema econômico e social, no século III, provocou inflação, guerras civis, invasões estrangeiras e ataques nas fronteiras. Roma teve de sofrer uma reforma em suas fortificações e houve escassez no abastecimento.
Entre o século III e o IV a segurança foi restaurada. O cristianismo passou a ser a religião oficial e uma burocracia clerical juntou-se ao já sinistro aparato secular do Estado. Constantino ampliou bastante o exército, sobrecarregando o Império. Acréscimos militares, políticos e ideológicos suplementares na superestrutura já existente, causaram um retraimento da economia e inverteu o relacionamento centro-periferia. As cidades decaíam por falta de fundos públicos ou investimentos privados, artesãos saíam das cidades, buscando segurança e emprego nas propriedades dos magnatas do campo. Aconteceu a ruralização do Império.
Os proprietários de terras deixaram de se ocupar da manutenção dos escravos, colocando-os em pequenos lotes para cuidarem uns dos outros.Era a servidão dependente do solo, onde as propriedades dividiam-se em explorações nucleares, trabalhadas com o braço escravo ainda, porém, com uma enorme quantidade de camponeses inquilinos ao redor. Os grandes proprietários passaram a patrocinar aldeias de pequenos proprietários e rendeiros livres para proteção contra as arrecadações fiscais e o recrutamento pelo Estado.
“Colonus” foi o nome dado a esse tipo de rendeiro dependente, amarrado à propriedade de seu senhor.




 

A Revolução Constitucionalista






1932 – SÃO PAULO EM GUERRA CIVIL
Alguns aspectos da Revolução Constitucionalista(1)

Hermas Caiuby(2)

RESUMO

Milhares de soldados e voluntários civis participaram da rebelião formada no estado de São Paulo contra o Governo Provisório ditatorial de Getúlio Vargas, lutando em busca de liberdade, democracia e uma nova constituição para o país. O poder político de São Paulo diminuiu após a Revolução de 1930 e o descontentamento motivou a população para o Movimento Constitucionalista com o propósito de restaurar a influência dos paulistas, que tiveram o estado entregue a um interventor “tenentista” de idéias totalitárias. A conspiração organizada por representantes de partidos políticos, oficiais do exército e comandantes da Força Pública não foi restrito somente a São Paulo, repercutiu também com movimentos e manifestações em outros estados. Nosso objetivo foi compilar alguns casos narrados pela historiografia a respeito das ações e vivências, no campo de batalha, dos soldados e voluntários dessa guerra civil.

Palavras-chave: Revolução, Constituição, Guerra Civil, 1932, Constitucionalista.


Nossa Bandeira(3)

Bandeira da minha terra,
bandeira das treze listas!
São treze lanças de guerra
cercando o chão dos paulistas!

Prece alternada, responso
entre a cor branca e a cor preta:
velas de Martim Afonso,
sotaina do padre Anchieta!

Bandeira de Bandeirantes,
branca e rota de tal sorte
que entre os rasgões tremulantes
mostrou as sombras da morte.

Riscos negros sobre a prata:
são como o rastro sombrio
que na água deixava a chata
das Monções subindo o rio...

Página branca pautada
por Deus numa hora suprema
para que um dia uma espada
sobre ela escrevesse um poema:

o poema do nosso orgulho
- eu vibro quando me lembro! –
que vai de nove de julho
a vinte e oito de setembro!

Mapa de pátria guerreira
traçado pela Vitória:
cada lista é uma trincheira,
cada trincheira, uma glória!

Tiras retas, firmes: quando
o inimigo surge à frente,
são barras de aço guardando
nossa terra e nossa gente.

São os dois rápidos brilhos
do trem-de-ferro que passa:
faixa negra dos seus trilhos,
faixa branca da fumaça...

Fuligem das oficinas,
cal que as cidades empoa!
Fumo negro das usinas
estirado na garoa!

Linhas que avançam: há nelas,
correndo num mesmo fito,
o impulso das paralelas
que procuram o infinito.

É desfile de operários...
É o cafezal alinhado...
São filas de voluntários...
São sulcos do nosso arado...

Bandeira que é o nosso espelho!
Bandeira que é a nossa pista!
Que traz no topo vermelho,
o coração do Paulista!

(Poema “Nossa Bandeira”, de Guilherme de Almeida) (4)


Sábado, 9 de julho de 1932, 23 horas e 30 minutos. O general Bertholdo Klinger dá a voz de comando para o início das hostilidades contra o Governo Provisório. Começa uma guerra civil que durou três meses e consumiu a vida de cerca de 830 soldados e civis do lado dos rebeldes paulistas.
A bandeira de uma nova constituição para o Brasil serviu aos interesses elitistas de tentar recuperar seu poderio político, bem como os de todos os insatisfeitos com a centralização do governo Vargas, das nomeações de interventores nos estados e de alguns ministros que não agradaram.
Com entusiasmo, certos de que derrubariam o governo Vargas, os paulistas criaram batalhões e recrutaram a juventude escolar para o serviço de guerra, alcançando cinqüenta mil inscritos. Possuíam perto de quarenta mil fuzis e metralhadoras leves; o armamento que deveria ser comprado em quantidade, por Manoel José Ferreira, nos Estados Unidos, se reduziu, pois aquela nação não reconheceu o estado de beligerância. Mesmo esse material, embarcado no iate “Ruth” e no navio “Jaboatão”, não conseguiu chegar aos revolucionários, porque foi apreendido no litoral paulista. (FROTA, 2000, p. 616).
O porto de Santos foi bloqueado por forças navais do governo e quatro frentes de combate foram abertas. No Vale do Paraíba, sob o comando do coronel Euclides de Figueiredo(5) , os paulistas entrincheiraram-se provocando uma situação estratégica semelhante à da Primeira Guerra Mundial. (FROTA, 2000, p. 617).
São Paulo presumia poder contar com o apoio do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, o que acabou não ocorrendo, ficando sozinho, mas com ampla participação popular, sem idéias de separatismo ou revanchismo, segundo PONTES (2005):
A Revolução Constitucionalista não era revanchista ou separatista como alardeou a propaganda do Governo Provisório para todo o país, a partir do isolamento a que foi relegado o estado de São Paulo logo no início da insurgência, resultado de uma eficiente contra-ofensiva política e militar de Vargas.
No comando dos rebeldes estavam militares que não eram paulistas e não demonstravam pensamentos de separatismo. O que parece ter provocado a revolta foi a entrega de São Paulo por Vargas ao comando dos “tenentes”(6) , na pessoa de João Alberto Lins de Barros, ocasionando o repúdio de políticos que antes haviam-no apoiado. (PONTES, 2005). Os “tenentes” defendiam uma presidência autoritária naqueles anos 30 do século XX quando ditaduras alastravam-se pela Europa: Salazar em Portugal, Franco na Espanha, Mussolini na Itália, Hitler na Alemanha, Stálin na União Soviética. E, na América Latina, o Uruguai era a única exceção. Também se pode incorporar à ocasião, os resultados da crise mundial de 1929, com o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque, suas repercussões pelo mundo e uma queda enorme no preço do café. O governo Vargas comprou sacas do excedente do produto para valoriza-lo e evitar a quebra, mas, também, decretou a proibição de novas áreas de plantio. Isso causou um êxodo rural, com sérias conseqüências sociais, bem como um desagrado geral entre os cafeicultores.
A efervescência do movimento deu-se em 23 de maio, num comício na Praça da República, centro de São Paulo, por uma nova constituição, organizado pela Frente Única Paulista, uma união das forças políticas. Quatro estudantes foram mortos por tenentistas nessa ocasião: Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Camargo de Andrade. E o movimento passa a denominar-se MMDC (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo). Comovida com o episódio, a população vai às ruas contra o governo federal e depois é feita a campanha “Ouro para o bem de São Paulo”, com apoio da Associação Comercial, para a doação de jóias com o objetivo de financiar o esforço de guerra. (DIWAN; FARFEL, 2004).

Moeda Paulista

Moeda Paulista, feita só de alianças
Feita do anel com que o Nosso Senhor
Uniu na terra duas esperanças
Feita de tudo o que restou do amor!

Quanto vale essa moeda? Vale tudo!
Seu ouro eternizava um grande ideal
E ela traduz o sacrifício mudo
D’aquela eternidade de metal

Ela que vem das mãos dos que se amavam
Vale esse instante que não tinha fim
Em que dois sonhos juntos se ajoelharam
Quando a felicidade disse Sim.

(Poema “Moeda Paulista”, de Guilherme de Almeida) (7)

O MMDC, além dos estudantes recrutados, contou com a participação de negros, índios, imigrantes italianos e mulheres. Imagem tirada da Revolução Francesa, Mariana, envolta pela bandeira paulista, passou a simbolizar os ideais constitucionalistas, segundo Marco Antônio Vila, já anteriormente referido. De acordo com DIWAN e FARFEL (2004), “motivadas pelo sentimento de defesa de seu estado, cerca de 135 mil pessoas (soldados e voluntários civis) uniram-se na luta armada e no esforço de guerra”.

O Passo do Soldado

Marca o passo, soldado! Não vês
Que esta terra foi ele que fez
Que o teu passo é o compasso seguro
De um passado, um presente e um futuro

Vê soldado que grande tu és!
Tua terra se atira a teus pés!
E estremece de orgulho! Ergue os braços:
Ergue os braços de poeira aos teus passos

Marcha, soldado paulista!
Marcha o teu passo na História!
Deixa na terra uma pista
Deixa um rastilho de glória!

(Poema “O Passo do Soldado”, de Guilherme de Almeida)

Os batalhões eram organizados por categorias específicas: comerciários, universitários, operários, esportistas (Friedenreich, chamado em 1925 de “rei do futebol”, estava lá), ferroviários, funcionários públicos e professores. Também pela etnia: italianos, portugueses, espanhóis, sírio-libaneses, alemães, ingleses e índios guaranis. Em uma quinta-feira, 14 de julho, foi formada a Legião Negra, com aproximadamente 3500 combatentes. Conhecidos popularmente como “Pérolas Negras”, usavam chapéu de abas largas no uniforme. Mulheres faziam os serviços de retaguarda e sabe-se de cinco casos de negras como soldados. Como informa DOMINGUES (2004), “Maria Soldado” mereceu, pelos seus feitos, o seguinte comentário no jornal “A Gazeta”, em 5 de setembro de 1932:

Uma mulher de cor, alistada na Legião Negra, vencendo toda sorte de obstáculos e as durezas de uma viagem acidentada, uniu-se aos seus irmãos negros em pleno entrincheiramento na frente do sul, descrevendo a página mais profundamente comovedora, mais profundamente cheia de civismo, mais profundamente brasileira, da campanha constitucionalista, ao desafiar a morte nos combates encarniçados e mortíferos para o inimigo. Maria da Legião Negra! Mulher abnegada e nobre da sua raça! (8)

Ocorreram manifestações de apoio de estudantes em Salvador e no Rio. Em Belém, o centro da cidade foi ocupado durante dois dias por universitários e estudantes do ensino médio. No Rio Grande do Sul, 300 homens lutaram no interior, sob o comando de Borges de Medeiros, perseguidos pelas tropas federais. Dois portos fluviais foram tomados por rebeldes em Mato Grosso e, no Rio de Janeiro, militares esperavam pela chegada dos paulistas para lhes dar apoio. (PONTES, 2005).
As tropas paulistas possuíam 2 aviões Potez, 4 Waco e 1 Nieuport. Em agosto compraram 9 aviões Curtis Falcon no Chile, os quais foram trazidos por pilotos chilenos e norte-americanos. Em toda a América, foi a primeira vez que o avião entrou em combate como arma militar(9) e decidiu com peso fundamental na balança para o lado do governo. A cidade de Campinas foi intensamente bombardeada e as filhas de famílias da classe média foram evacuadas para São Paulo, ficando alojadas especialmente na Universidade Mackenzie, de acordo com fontes orais de pessoas que viveram nessa época e dentro desse conflito.
Roberto Simonsen, presidente da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e professor da Escola Politécnica, com o apoio de estudantes da classe média, transformaram as indústrias e os laboratórios da Escola em fábricas de armamentos, numa mobilização com recrutamento de instalações, máquinas e pessoas. O LEM – Laboratório de Ensaios e Materiais da Escola Politécnica hoje é o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT-USP), referência em tecnologia. Por eles foram produzidos trens blindados, lança-chamas, lança-minas, morteiros, granadas e munições. (MARANHÃO, 2004).
Uma grande operação foi efetuada na fortaleza de Itaipu, onde soldados paulistas levaram canhões costeiros e deixaram “cavalos-de-tróia” (simulacros de madeira, chapas de metal e papelão) em seu lugar, para enganar a armada federal que bloqueava o litoral paulista, sempre à distância, receosa de ser atingida por eles. Esses canhões circularam pelos fronts Leste e Sul, em plataformas da Estrada de Ferro Sorocabana, apelidados respectivamente de Catarina e Clotilde. (DE PAULA, 2005).
Em 1º de outubro ocorreu a rendição dos rebeldes, diante da inferioridade gritante frente às forças do Governo Provisório. Os líderes foram expatriados para a Europa. Segundo FROTA (2000): “os paulistas perderam no campo de batalha, mas ganharam na paz”. Armando Sales Oliveira, um civil e paulista, é nomeado por Vargas como interventor e, algum tempo depois, Vargas participa da inauguração da Avenida Nove de Julho, uma das mais importantes da cidade de São Paulo.
Mas, quem teriam sido os derrotados? Que oligarquia teria perdido sua influência? Todos eram contra Getúlio Vargas em São Paulo?
A tristeza de uma guerra, desta e de qualquer outra é a fragilidade dos que mais perderam com ela: criações, casas e plantações de pequenos agricultores; inválidos e mutilados; mulheres que perderam maridos e filhos. O estado de São Paulo assumiu parte da responsabilidade, no entanto, alguns prejudicados nada receberam, entre eles os negros. (DOMINGUES, 2004).
“A Gazeta” de 17 de agosto de 1932: “A Legião Negra terá, indiscutivelmente, o seu nome gravado com letras de ouro na história da epopéia Piratininga”. (DOMINGUES, 2004).
Que ilusão!
Todo dia Nove de Julho, em São Paulo, autoridades públicas comparecem ao desfile militar e às homenagens aos combatentes de 1932. No Parque do Ibirapuera, além de um museu dedicado ao movimento, o obelisco, tendo abaixo um panteão onde estão sepultados os soldados, exibe altos-relevos dessa guerra. Porém, a Legião Negra e nenhum dos Pérolas Negras são lembrados.
Além de ser uma coisa torpe e repugnante por todo sofrimento que causa, a guerra nunca faz justiça com aqueles que mais se envolvem nela, isto é, os soldados, combatentes na linha de frente e que morrem sem ser lembrados por sua dedicação. Não só a Legião Negra, mas muitos outros excluídos da história são esquecidos nas homenagens públicas e nas páginas de muitos livros.
Os sacrifícios da Revolução Constitucionalista não foram inúteis. Realizadas em 1933, as eleições para a Assembléia Nacional Constituinte trouxeram um breve período de democracia. Nessas eleições, pela primeira vez no Brasil, ocorreu o voto feminino. O país passou, então, depois de promulgada em 1934, a ter uma Constituição, substituindo a anterior, rasgada por Getúlio Vargas que governava através de decretos. Apesar de estar prevista a data dessas eleições antes mesmo da Revolução Constitucionalista, é bem possível que elas não tivessem ocorrido sem a pressão desse movimento, pois as intenções de Vargas ficam bem claras em 1937, com o Estado Novo: uma ditadura fascista nos moldes europeus.


REFERÊNCIAS

CARONE, Edgard. A segunda república (1930-1937). Rio de Janeiro – São Paulo: Difel, 1978.

_______________ . Revoluções do Brasil contemporâneo: 1922-1938. São Paulo: Ática, 1989.

DE PAULA, Jeziel. Os canhões rebeldes. Nossa História, São Paulo, ano 2, n. 21, p.48-51, jul. 2005.

DIWAN, Pietra; FARFEL, Nicolas. Um Estado em luta: São Paulo, o campo de batalha durante a revolução de 1932. História Viva, São Paulo, ano I, n. 8, p. 20-21, jun. 2004.

DOMINGUES, Petrônio. A legião negra. Nossa História, São Paulo, ano 2, n. 21, p. 52-54, jul. 2005.

FROTA, Guilherme de Andrea. 500 anos de História do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2000.

MARANHÃO, Ricardo. Ideais e tecnologia na revolução de 1932. História Viva, São Paulo, ano I, n. 8, p. 82-87, jun. 2004.

PONTES, José Alfredo Vidigal. Sangue brasileiro. Nossa História, São Paulo, ano 2, n. 21, p. 45-47, jul. 2005.

1- Artigo apresentado à disciplina História do Brasil (século XX), sob orientação da profa. Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes.
2- Aluno de Graduação em História do Departamento de Educação – Campus X/UNEB, Teixeira de Freitas, Bahia.
3- Neste poema, Guilherme de Almeida coloca todas as idéias enraizadas na cabeça dos paulistas, como a locomotiva que carrega o resto do Brasil em suas costas. Conta aspectos de uma história considerada por eles de grandeza desde o padre Anchieta aos revolucionários pela constituinte, passando pela interiorização territorial conquistada pelos bandeirantes. Relata como glória o sofrimento nas trincheiras durante a Revolução pelo ideal maior da democracia e da liberdade constitucional.
4- O Guilherme de Almeida (1890-1969), apelidado de “o poeta da Revoloução”, bem como outros intelectuais como Mário de Andrade, lutaram nas trincheiras. Oswald de Andrade, irmão de Mário, também participou através de artigos em jornais e declarações em rádio, sem ir à linha de frente, conforme disse Marco Antônio Vila, em entrevista ao Programa do Jô, na Rede Globo, em 22/07/ 2009).
5- Pai do último general-presidente durante a ditadura militar que terminou em 1985.
6- “Tenentes” eram os integrantes de rebeliões militares que aconteceram na década de 1920.
7- Guilherme de Almeida, com toda sua contribuição artística, sensibiliza neste poema, o sacrifício de milhares de casais que doaram suas alianças de casamento, símbolos de seu amor um pelo outro, para o seu amor à terra paulista.
8- Observe-se que apesar de ser um elogio, enaltecendo as ações de “Maria Soldado”, a segregação encontrava-se apegada à cultura da sociedade com termos como “mulher de cor”, “uniu-se aos seus irmãos negros” e “mulher abnegada e nobre da sua raça”.
9- Possivelmente por essa razão, Santos Dumont suicidou-se, em 23 de julho de 1932, no Hotel La Plage, no Guarujá. (FROTA, 2000).

 

1932




terça-feira, agosto 10, 2010

 

O Papel da Igreja Católica na América





Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas – Depto. de Educação
Curso: História IV
Disciplina: América Colonial
Docente: Profa. Kylma Marluza Luz Kramm
Acadêmico: Hermas Braga Dale Caiuby
19/01/2009

O PAPEL DA IGREJA CATÓLICA NA AMÉRICA

A Igreja Católica na América Espanhola Colonial. In Bethell, Leslie (org.). América Latina Colonial, vol I.

No artigo acima referido, o autor relata o que ele chamou de “transplantação” e depois , a “consolidação” da Igreja Católica na América espanhola, com todas as polêmicas e contradições ocorridas durante o passado colonial.
Inicialmente são analisados os acontecimentos daquele período, com a Reconquista da Península Ibérica e expulsão dos muçulmanos, culminando em 1492 na vitória sobre os mouros em Granada, seu último reduto. Nesse mesmo ano Colombo chegava à América pela primeira vez e a força da monarquia espanhola, com os reis católicos Fernando e Isabel, de Aragão e Castela, era incontestável.
O direito divino dos reis integrava a sua inegável soberania absoluta e nisso estava incluído o “patronato sobre a Igreja”, com a transferência de poderes à coroa feita por Roma, em um nível nunca antes visto na Europa. Os cargos eclesiásticos eram de indicação da coroa e as comunicações pontifícias com as Índias eram controladas, ficando a Espanha, também a seu cargo, com todas as despesas de pessoal, clérigos, construções de igrejas e tudo o mais de que necessitassem as obras missionárias, utilizando para esse fim os recursos obtidos com a cobrança do dízimo sobre produtos agropecuários.
A Igreja sujeitava-se aos interesses da monarquia espanhola (inclusive em questões conflituosas a respeito do tratamento aplicado aos indígenas) por diversas razões, algumas delas indicadas pelo autor, como: as influências do Renascimento na política da Europa, os movimentos protestantes da Reforma, falta de recursos para a cristianização das novas terras conquistadas.
A “encomienda” era um sistema de distribuição da mão de obra indígena entre os colonos, apesar de não serem os índios, em teoria, considerados escravos. Este foi um ponto polêmico na colonização, denunciado como ato de crueldade pelo frade Antônio de Montesinos e combatido em defesa dos índios, pelo frade Bartolomé de Las Casas, até o final de sua vida.
Ao contrário de outras opiniões, o autor refere-se ao Concílio de Trento (1545-1563) como de influência fundamental na Igreja das Índias. Fruto disso foram as missões da Companhia de Jesus, fortemente arraigada à hierarquia romana e ao modelo de evangelização determinado pelo Concílio. Resistentes à autoridade da coroa, os jesuítas tiveram um papel de suma importância na área da educação e na formação de consciências.
Do Concílio de Trento veio a forma de organização com uma maior determinação de poder aos bispos. Da conquista militar surgia a formação das dioceses e a conquista espiritual. As dioceses funcionavam com autonomia como centros para a administração e para tratar dos assuntos eclesiásticos. A base de tudo situava-se na paróquia, com sua missão pastoral de transmissão e proteção da fé para os espanhóis. Aos nativos existiam as “doctrinas” com a tarefa de converter e trazer a civilização.
As ordens religiosas exerceram total influência nos trabalhos de evangelização do Novo Mundo, grande parte delas fundadas na América e, em especial, as ordens femininas, estas, porém, somente voltadas à vida monástica e contemplativa.
Dentro do controle da doutrina, a Inquisição foi implantada na América com tribunais para julgar idolatrias, judaísmo, feitiçaria, protestantismo e desvios sexuais, no entanto, sem autoridade sobre os índios. As rebeliões de escravos também foram abarcadas por esses julgamentos.
Conforme relata o autor do artigo, a partir de 1808-1810, no início das guerras de independência, o baixo clero, formado por crioulos (os nascidos na América), não tinha credibilidade da coroa e estavam contrariados com o monopólio dos postos eclesiásticos para os peninsulares. Exerceram eles uma posição influente nas revoluções pela independência.
Finalizando, o autor diz que a autoridade do estado sobre a Igreja sobreviveu, continuando o “patronato” com os governantes das novas repúblicas estabelecidas.
Muito interessante o artigo, trazendo informações não muito conhecidas fora do mundo acadêmico, sobre a preponderante dominação da Igreja Católica pela coroa espanhola durante a colonização da América.

sexta-feira, julho 30, 2010

 

Tiwanakus







TIWANAKUS



Das águas do lago Titicaca, onde hoje é a Bolívia, saiu o grande Viracocha, deus criador do mundo, para esculpir o homem em pedra e dar-lhe a alma da vida.
Cravado na cordilheira dos Andes, o lago fica a 80 km de La Paz.
Em 600 a.C. os tiwanukus ocuparam essa região e suas cidades espalharam-se pela bacia do Titicaca.
Templos e pirâmides formavam centros cerimoniais que cercavam as áreas urbanas, onde cultos e oferendas eram realizados, incluindo sacrifícios humanos, a Viracocha.
Tihuanaco, com 90 mil habitantes, foi a maior cidade do império tiwanuku o qual se estendeu por um raio de 500 km. As ruínas impressionam pela grandiosidade e o local é considerado pela UNESCO patrimônio da humanidade.
O altiplano ao redor do lago, onde se instalaram os tiwanukus, tinha recursos abundantes. Peixes, carne de lhamas e alpacas e um eficiente sistema de irrigação e drenagem responsável por generosas safras de batatas, plantadas em terraços feitos na montanha, com a sustentação de muros de pedra.
Geoglifos (sinais e desenhos) nos desertos da Bolívia e do Chile serviam para orientar as caravanas que percorriam os Andes em um intenso comércio. Para localidades do litoral iam couro, charque, batata seca, milho, frutas, pimentas, alucinógenos, lã, roupas e cerâmica. No retorno vinham peixe seco, mariscos e minerais como o cobre.
Além do comércio, as caravanas tinham, também, como objetivo, divulgar suas crenças e sua cultura. Algumas expedições incluíam sacerdotes entre seus componentes, para essa finalidade.
Misteriosamente, talvez em conseqüência de alterações climáticas prejudiciais à produção de alimentos, por volta do ano de 1200, a civilização tiwanaku desapareceu. As informações de fontes seguras que obtemos hoje a respeito dela provêm de pesquisas de arqueólogos e historiadores. Como não desenvolveram nenhum sistema de escrita, somente os relatos dos europeus são disponíveis. Pouco confiáveis, por trazerem sua interpretação etnocentrista.

quinta-feira, julho 15, 2010

 

Colombo









1492 - A Conquista do Paraíso











Gerard Depardieu























Sigourney Weaver








Dirigido por Ridley Scott















Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas
Curso: História III
Disciplina: Povoamento e Colonização da América
Professora: Sayonara Oliveira Andrade Elias
Aluno: Hermas Braga Dale Caiuby
06/08/2008

COLOMBO
1492. Ano de grandes transformações políticas, econômicas e sociais na Europa. Os reis católicos Isabel e Fernando, de Castela e Aragão, conseguem a unificação da Espanha. Os mouros (muçulmanos) foram expulsos de Granada,seu último reduto no continente europeu.
“Perdemos uma grande cultura”, afirma um personagem do filme “1492 – A Conquista do Paraíso”.
Os judeus também foram obrigados a se retirar da Espanha.
As fogueiras da Inquisição faziam hereges arder em praças públicas.
Nesse clímax, Colombo consegue, a duras penas, convencer Isabel a financiar sua tão desejada viagem, Atlântico adentro, rumo às Índias. Nos anos anteriores, o almirante passara por tentativas frustradas em Portugal, Inglaterra, França e Holanda. E, mesmo na Espanha, isso só foi possível após o final dos gastos em combates contra os árabes em Granada.
Riquezas, o ouro em especial, traduziram-se em chamariz para a aprovação da empreitada e para recrutar os tripulantes. Bem como, para acalmá-los nos momentos mais delicados da viagem, com a demora e a ansiedade pela chegada em terra firme.
O filme já citado faz uma bela e entusiástica encenação de como deve ter ocorrido a partida das três naves comandadas pelo almirante, ao iniciar uma viagem sem qualquer tipo de prognóstico possível a respeito dos perigos a enfrentar naquele mar oceano nunca antes penetrado.
Tão empolgante é também o momento do grito, lá de cima:
“Terra!”
Colombo era um visionário. Embalado nas narrativas de Marco Polo, tencionava entrar em contato com o Grande Can ou imperador da China e iniciar com ele a expansão do cristianismo. Presumia ter o Grande Can demonstrado interesse a Marco Polo pela doutrina da Igreja.
Com o ouro que encontrasse teria os recursos necessários para outro sonho. E este bem mais chocante: uma cruzada para a libertação de Jerusalém, partindo lá mesmo, do próprio Oriente.
E mais um outro ainda: próximo ao Equador, ele acreditava estar localizado o paraíso terrestre.
Na ilha de Cuba, obrigou todos a fazer um juramento de que tratavasse ali de um continente e sabiam poder encontrar povos mais adiantados naquelas terras, tão obcecado estava de que chegara na Ásia.
Com os índios, Colombo não teve boas relações. Referia-se a eles como fazendo parte da paisagem e nunca interpretava ou traduzia corretamente o que lhe falavam. Ora considerava-os medrosos, fracos e covardes. Ora conhecedores, inteligentes, perspicazes. E parece que distribuía as mulheres entre seus comandados.
Diferentemente do que se pensava, Colombo não terminou sua vida na pobreza e como louco. Ele ficou com sua parte do que foi encontrado e rendido alguma riqueza nas conquistas. Antes da expedição, tudo isso foi acordado e assinado com os reis de Espanha.
Por intrigas e invejas de adversários, ele ficou durante algum tempo recluso, no ostracismo. Seu nome foi encoberto pelo de Américo Vespúcio, do qual vem a denominação do continente: América.
Referências
Filme: 1492 – A Conquista do Paraíso. Com Gerard Depardieu e Sigourney Weaver, dirigido por Ridley Scott.
Todorov, Tzvetan. A Conquista da América – a questão do outro. 3ª ed. Brasileira, São Paulo: Martins Fontes, 2003.

 

A Escrita da História

Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas – Depto. de Educação
Curso: História V
Disciplina: Introdução à Pesquisa Histórica
Docente: Profa. Kylma Marluza Luz Kramm
Acadêmico: Hermas Braga Dale Caiuby
23/08/2009

A ESCRITA DA HISTÓRIA E SUA COMPLEXIDADE

Cardoso, Ciro Flamarion S. Uma Introdução à História. São Paulo: Brasiliense, 1992.

Cardoso, nesta obra, destaca a polêmica existente já de há muito tempo, da possibilidade ou não de a História ser considerada uma ciência. Ela não pode ser comprovada pela verificação repetida como acontece com a Matemática e a Lógica. No entanto, partindo desse princípio, a Biologia também estaria na mesma posição, visto que a origem das espécies e a evolução não poderão ser examinadas novamente e nem poderão ser feitas previsões de como se transformarão no futuro. Inclusive não podem ser dadas, como na História, explicações do passado, mas sim interpretações. A essa visão de um pensamento chamado de neopositivismo contrapõe-se a perspectiva marxista com o materialismo histórico e a dialética, buscando fatos que se repetem ou não variam.
Mais adiante, o autor cita Marc Bloch com sua definição de História: “ciência dos homens no tempo”. Ao que chama de otimismo de Bloch, mostra a postura oposta de “o mosaico ciência-caos” de Veyne, a “História como arte e prática” de Granger, “ciência que não é bem uma ciência” de Jaeglé e Roubaud e a total negação de Patterson. Com essas definições ele pergunta: por qual decidir? E coloca o pensamento que quer defender afirmando não existir nada radicalmente contrário à possibilidade da História vir a ser uma ciência. Conclui com o ponto de vista de que a História a cada dia aproxima-se mais de ser uma ciência, o método científico ainda encontra-se em elaboração “e que portanto a História é uma ciência em construção”.
Mas o que é ciência? A ciência procura a verdade de uma maneira própria, através do conhecimento objetivo, propondo problemas verificáveis cujos resultados podem ser submetidos a comprovação. Cardoso resume sua definição de ciência como o “conhecimento das leis da natureza e da sociedade”, com determinadas práticas, “dois níveis qualitativamente diferentes” – o teórico e o empírico -, sócio-historicamente está vinculada a um complexo “conjunto material e cultural de cada época da história humana”, “é histórica e portanto falível” não tendo a intenção de obter a verdade incontestável, mas verdade parciais, partindo de conhecimentos menores para os mais abrangentes.
A partir daí, Cardoso traz um retrospecto da evolução da História como disciplina a partir do século XVI, com o humanismo da Renascença e da Reforma, a preocupação com a autenticidade dos documentos utilizados como fontes no século XVII, afirmações, no século XVIII, de Condorcet, que os fatos poderiam ser objeto de conhecimento científico, com “previsibilidade”. No século XIX com o surgimento de grandes escolas como a positivista, historicista e marxista, até chegar à “História-problema” em lugar da “História-narração” e a principal influência para a concepção como ciência vinda do “grupo dos Annales”. Finalizando este capítulo, o autor volta a afirmar seu pensamento considerando a História como ciência em construção e afirmando que, mesmo para as outras ciências, não existem mais “verdades absolutas e eternas”. Trata-se de uma ciência em construção porque ainda não chegou a um método científico condizente com o seu objeto de estudo.
No capítulo seguinte, Cardoso discorre sobre o método científico em História, descrevendo os passos a serem seguidos, levando-se em conta, além dos documentos como fontes, também as ciências auxiliares que são em grande quantidade. Quanto aos documentos cita Marc Bloch quando este afirma que as fontes não falam por si mesmas e devem ser feitas as perguntas adequadas para que elas sejam úteis. Encerra dizendo que a construção teórica sofre com muitas falhas e as dificuldades de que as sociedades são sistemas indefinidos como diz Raymond Boudon.
Depois são abordados os passos da pesquisa histórica em detalhes, no capítulo seguinte, com dados e normas para a produção de um projeto de pesquisa.
Encerra com uma “conclusão geral: para que serve a História?” Comenta a respeito da História como “ciência das transformações das sociedades humanas no tempo e afirma o compromisso que tem o historiador brasileiro com a sociedade, diante de tantas desigualdades e injustiças. Diz Cardoso que a História “nova”, a “História-problema” com sua preocupação com o coletivo e o social, deve ser observada nas pesquisas e no ensino de História em nosso país.

 

Profissionais da Educação


blog.moadesenhos.com.br



Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas – Depto. de Educação
Curso: História IV
Disciplina: Política Educacional
Docente: Profa. Cecília Maria Mourão Carvalho
Acadêmicos: Cláudia Coelho, Elane Carvalho e Hermas Caiuby
30/03/2009

PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO
Legislação e ações governamentais

Conta o folclore político baiano que um certo governador em determinada ocasião disse: “Professor é igual ao sal. É necessário, mas tem de ser baratinho.”
Não existem dúvidas quanto ao papel decisivo do magistério para obtermos uma educação de qualidade. Discursos e mais discursos falam disso. Programas, projetos e leis abordam a necessidade da valorização do profissional da educação. É uma mesma cantilena, monótona que sabemos ficará somente nas palavras, nas boas intenções e nas promessas.
Por ironia, o professor é a única categoria profissional em que a Constituição garante que seja determinado um piso salarial. É uma importância muito grande que se dá aos profissionais da educação, paradoxalmente àquilo que se vê na prática, no cotidiano, no dia-a-dia.
Um piso salarial que atraia bons profissionais e motive os já em atividade é imprescindível e inquestionável para que se atinjam as necessidades e exigências atuais de qualidade no ensino.
A seguir vamos relacionar algumas coisas que já existem no papel e algo também na prática, referentes aos profissionais da educação, na LDB, PNE, PDE, bem como ações do MEC até o momento.

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996):

- Formação profissional para a educação básica: superior, com licenciatura.
- Formação mínima para educação infantil e as quatro primeiras séries do ensino fundamental: nível médio Normal.
- A formação incluirá prática de ensino de, no mínimo, 300 horas.
- Magistério superior: pós-graduação em programas de mestrado e doutorado.
- Notório saber reconhecido por universidade com doutorado na área poderá suprir a exigência de título acadêmico.
Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive, nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:
• Concurso público de provas e títulos;
• Aperfeiçoamento continuado com licença remunerada;
• Piso salarial;
• Progressão por titulação ou habilitação e avaliação do desempenho;
• Período para estudos, planejamento e avaliação na carga horária;
• Condições adequadas de trabalho.

PNE – Plano Nacional de Educação (2001):

Melhoria da qualidade, com a valorização do magistério, cujo papel é decisivo, para obter esse objetivo. Dar a importância necessária para a formação profissional inicial; condições de trabalho, salário e carreira; formação continuada; aulas em um único estabelecimento de ensino; tempo para atividades complementares; salário condigno e competitivo no mercado de trabalho de ocupações de nível equivalente; pelo menos 60% do Fundef para remuneração; compromisso social e político do magistério.
Incluir na formação, conhecimentos sobre educação de pessoas com necessidades especiais, bem como, história, cultura, conhecimentos, manifestações artísticas e religiosas do segmento afro-brasileiro, das sociedades indígenas e dos trabalhadores rurais e sua contribuição na sociedade brasileira.

PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação (2008):

Distinção aos profissionais de educação, única categoria profissional com piso salarial nacional constitucionalmente assegurado.
Cooperação entre UAB – Universidade Aberta do Brasil, estados e municípios para manter pólos de apoio presencial para professores sem curso superior ou para formação continuada.
Cursos semi-presenciais modulares.
Programas de educação à distância.

A UNESCO, em 1993, instaurou a Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI.
Em 1996 foi elaborado por essa comissão o Relatório Jacques Delors, com a participação de especialistas de vários países.
Concluíram os pilares da educação para as próximas décadas como sendo os seguintes: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser.
O relatório enfatiza a relevância do papel dos professores. Formação adequada e condições para um trabalho educativo eficaz.
Nosso quadro requer investimentos substanciais para recursos materiais e formação de profissionais.
Tema crucial: formação de professores e formação continuada.
Vontade política, entendimento suprapartidário, sem a tradicional descontinuidade administrativa do Brasil.
Status dos cursos de formação de professores é menor que dos demais cursos universitários.


Críticas do documento:
- Necessidade de formação profissional é considerada menor quanto menores forem as crianças;
- Professor sem participação no projeto educativo da escola;
- Concepção autoritária e o professor é um receptor de informações e executor de propostas;
- As práticas de formação destinam-se a preparar o professor para ser um aplicador e um técnico e não um profissional com domínio de sua prática e com autonomia para tomada de decisões;
- Educação: formal e rígida desconsiderando a importância da informalidade, do vínculo afetivo, da comunicação, do jogo, do riso e do entretenimento;
- Modalidades convencionais de comunicação como aula, seminário, palestra, curso e oficina. Desprezam-se outras: intercâmbio, uso de recursos de documentação, simulação de situações-problema, etc.

Programas e Ações do MEC:

- Distribuição de Material Científico-Pedagógico para Professores do Ensino Médio.
- FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais.
- Prêmio Professores do Brasil – criação e prática de projetos pedagógicos.
- Programa de Formação Continuada para Professores do Ensino Fundamental.
- Programa Nacional Biblioteca na Escola – distribuição de obras literárias e para a formação de professores.
- Pró-Infantil – Curso de Nível Médio à distância para professores de educação infantil.
- Pró-Letramento – programa de formação continuada de professores nas áreas de leitura/escrita e matemática.
- Banco Internacional de Objetos Educacionais – portal para assessorar o professor com recursos educacionais gratuitos.
- Escola de Gestores da Educação Básica – programa de formação de gestores escolares.
- Formação de professores através do ensino à distância, em parceria com a UAB – Universidade Aberta do Brasil.
- PIBID – Programa de Bolsa Institucional de Iniciação à Docência.
- PRADIME – Programa de Apoio aos Dirigentes Municipais de Educação.
Encontros presenciais ou à distância.
- PRODOCÊNCIA – Programa de Consolidação das Licenciaturas.
Financia projetos para formação de futuros docentes e procura elevar a qualidade do ensino superior.
- PROFORMAÇÃO – curso de nível médio, com habilitação para o magistério na modalidade Normal.
- Programa de Educação Inclusiva – formação de educadores para disseminar a política de educação inclusiva (para pessoas com deficiências).
- PROLIND – Programa de Formação Superior e Licenciaturas Indígenas.
- Rede de educação para a diversidade – formação de professores para a inserção de temas de diversidade nas salas de aula.
- Rede Nacional de Formação de Professores – programa de formação continuada de professores de educação básica.
- Projeto Escola que Protege – formação de profissionais da educação para atuarem no enfrentamento à violência, de preferência prevenindo.
- PROFUNCIONÁRIO – curso técnico de formação para os profissionais de educação básica.
- Formação pela Escola – fortalecer o trabalho de gestão de recursos públicos do FNDE, com formação continuada, à distância.
- TV Escola – canal do MEC que aperfeiçoa e atualiza o trabalho de educadores da rede pública.
- TV MEC – canal disponível no site do MEC para promover interação do usuário com temas de educação.

Cremos que nossas conclusões são as mesmas verificadas pela maioria das pessoas preocupadas com a situação da educação no Brasil e, em especial, com as condições de ensino enfrentadas pelos profissionais da educação. Elas foram embasadas em pesquisas de campo, na entrevista e por nossa vivência em escolas e colégios da rede pública.
Não há participação da sociedade e muito menos de professores ou seus representantes na formulação das políticas governamentais adotadas. Os concursos públicos são raríssimos e as lacunas existentes nas escolas e colégios são supridas através de um exame ridículo como o do REDA – Regime Especial de Direito Administrativo, chamado de Processo Seletivo Simplificado para Seleção Pública, para contratação temporária de pessoas completamente despreparadas, pois não é exigida a formação ou estar em um curso superior de licenciatura. Ocorre também que nas provas de conhecimentos específicos não são contempladas questões da especialidade para a qual o candidato inscreveu-se, deixando, assim, uma brecha para que qualquer um seja aprovado. Outro descalabro é o de que as prefeituras municipais podem colaborar com o pagamento de professores contratados sem concurso para dar aulas nos colégios estaduais.
O piso salarial oferecido pelo governo Lula, pode até estar melhorando a situação de muitos educadores de cidadezinhas longínquas e que recebem menos que um salário mínimo, porém, na realidade, é ridículo, é uma piada para quem se diz preocupado com a qualidade do ensino em nosso país.
A progressão por titulação ou habilitação tem seus limites e nós, pessoalmente, nunca vimos ser feita avaliação do desempenho de profissionais da educação.
Acreditamos que as Atividades Complementares (AC) incluídas na remuneração do professor são ótimas quando feitas em casa, onde você pode desfrutar de conforto e tranqüilidade para planejar aulas e corrigir provas e trabalhos, sem interferências incômodas que paralizam com freqüência a tarefa que está sendo feita.
Finalizando, apontamos que em muitos lugares, em uma grande quantidade de escolas situadas em zonas rurais e mais pobres, não existem condições adequadas de trabalho. A precariedade é tamanha ao ponto de em algumas localidades não existirem livros e muito menos qualquer tipo de equipamento de apoio. Até giz ou canetas piloto faltam.
Nossos governantes ainda não estão amadurecidos o suficiente para discernir a respeito da gravidade do problema e quão decisiva é a valorização do magistério para auxiliar na solução de um problema que demorará décadas para demonstrar resultados a partir do momento da implantação de um projeto adequado e lógico.
Uma opção seria a sociedade em peso pressionar rigidamente a classe política com a finalidade de ver suas exigências de inclusão e qualidade de ensino transformadas em realidade. Para isso cremos que nós, estudantes e educadores, precisamos divulgar as idéias de Paulo Freire a todas as pessoas que fazem parte de nosso círculo de relacionamentos.
Professor não é igual ao sal: necessário, mas que tem de ser baratinho.
Tem de ser caro, porém sem esquecer de sua responsabilidade social.


Referências

- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília: Presidência da República, 1996.

- Plano Nacional de Educação – PNE. Ministério da Educação - MEC. Brasília: INEP, 2001.

- PDE - O Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas. Brasília: Ministério da Educação - MEC, 2008.

- Cara, Daniel. Plano de Desenvolvimento da Educação: ausências e limitações. www.cnte.org.br. Artigo produzido em 20/03/2009. 19:13.

- Referenciais para formação de professores. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: Ministério da Educação – MEC, 2002.

- Valente, Ivan; Romano, Roberto. PNE: Plano Nacional de Educação ou Carta de Intenção? Campinas, SP: Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 80, setembro/2002, p. 96-107. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br.

quarta-feira, junho 30, 2010

 

Pro Dia Nascer Feliz




Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas – Depto. de Educação
Curso: História V
Disciplina: Epistemologia e Didática
Docente: Prof. Jessyluce Cardoso Reis
Acadêmico: Hermas Braga Dale Caiuby
07/09/2009

TRISTE SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL (1)

Hermas Caiuby (2)

JARDIM, João. Pro dia nascer feliz. Filme documentário. São Paulo: Tambellini Filmes, 2006.

O documentário trata da lastimável situação em que se encontra a educação brasileira, jogada no fundo do poço, sem a atenção que merece por parte das autoridades e também de muitos professores, diretores e pais de alunos.
Mostra uma série de entrevistas e depoimentos de alunos e profissionais da educação em escolas e colégios públicos do Nordeste ao Sul do País, bem como duas escolas particulares tradicionais de São Paulo e Rio de Janeiro.
Apesar das gritantes e injustas desigualdades, o filme aborda casos de alunas apaixonadas por aprender e estudar, ao ponto de uma delas, habituada a ler bons livros, produzir textos que foram rejeitados por uma professora que acreditava ter sido cópia. Enquanto isso, uma garota de classe média alta preocupa-se com o número de admiradores e namorados, ressaltando-se aí diferenças sociais de valores.
Trata-se de uma denúncia e uma advertência àqueles que podem fazer alguma coisa pela melhoria da educação dos jovens e adolescentes: homens públicos e todos os envolvidos no funcionamento do ensino. Não é necessário qualquer conhecimento prévio para entender a mensagem transmitida pelo filme.
Este documentário ganhou o prêmio especial do júri no 10º Cine-PE e foi selecionado para o Festival de Gramado 2006. João Jardim é carioca, estudou cinema na Universidade de Nova York, trabalhou com Paul Mazursky, Murilo Salles, Carlos Diegues, montou musicais para a televisão e editou e dirigiu minisséries na Rede Globo.
Pro dia nascer feliz é recomendável a todos os interessados no assunto e que , de certa maneira, sofrem a influência de seus efeitos na sociedade individualista e competitiva em que vivemos. Valeu a pena em muito assistir a esse filme e vendo em lugares diferentes do Brasil situações que vivenciamos aqui em nosso dia-a-dia de professor. Infelizmente percebemos nos exemplos focalizados, uma metodologia arcaica de ensino, ainda com o paradigma dominante da educação bancária mencionada por Paulo Freire em suas obras. Em nenhuma ocasião que eu me lembre foi verificada a prática da interdisciplinaridade. A transposição didática é baseada nos manuais e livros escolares e a mediação foi vista muito pouco. O filme contribuiu, com idéias claras e precisas, a um entendimento melhor do conteúdo da disciplina Epistemologia e Didática. Ele quer incomodar a todos diante da situação caótica da educação no país, sabendo-se que ela é essencial para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida da população, acabando com os vergonhosos desníveis de classes que levam à revolta e à prática da violência.

1- Resenha crítica do filme documentário Pro dia nascer feliz, apresentada à disciplina Epistemologia e Didática, sob orientação da prof. Jessyluce Cardoso Reis.
2- Acadêmico do V período do curso de Licenciatura em História do campus X – UNEB, Teixeira de Freitas (BA).

 

A Bahia no Processo de Construção do Império Português


Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus X
Teixeira de Freitas, 03/06/2008
História II
Disciplina: História do Brasil na Bahia dos Séculos XVI – XVIII
Professora: Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes
Aluno: Hermas Braga Dale Caiuby



A Bahia no Processo de Construção do Império Português: resumo dos temas apresentados em seminários durante o primeiro semestre de 2008


“Uma gente sem religião, sem lei e sem rei. Andavam nus e comiam carne humana.” Assim foi a impressão dos europeus em seus primeiros contatos com os indígenas do Brasil.
A guerra é um costume tradicional, faz parte da cultura, da formação e do aprimoramento do caráter do indígena do sexo masculino. As mulheres têm suas atividades voltadas para a agricultura, o cultivo do solo preparado pelos homens, os quais se dedicavam à caça e à pesca.
Um relacionamento inicialmente amistoso, enquanto portugueses, holandeses, franceses, espanhóis e ingleses aqui apareciam para fazer o escambo do pau-brasil, transformou-se em guerra a partir da implantação das Capitanias Hereditárias e da monocultura da cana-de-açúcar.
O declínio no comércio de especiarias com o oriente, devido à concorrência, maior oferta e queda dos preços, fez com que Portugal voltasse seus olhos e atenção para o Brasil, na busca de uma nova fonte de lucros no comércio internacional.
A mão-de-obra necessária para o funcionamento dos engenhos deveria ser trazida para cá ou arregimentada aqui mesmo: escravos.
Os jesuítas, contrários à escravização dos indígenas, os catequizavam em aldeamentos onde eram reunidos nativos de diferentes origens e culturas. A língua falada por todos foi unificada para que houvesse maior facilidade para os ensinamentos. Os aldeamentos eram auto-suficientes, produziam tudo de que precisavam e originaram um campesinato. As construções e o planejamento seguiam padrões europeus, o modo de vida, a produção, tudo dirigido para a aculturação do índio.
A resistência indígena ocasionou um conflito com os aimorés, notáveis guerreiros, que devastaram as capitanias de Porto Seguro e Ilhéus, e ainda fizeram ousadas incursões na capitania da Bahia.
A Santidade, uma seita messiânica idealizada pelos nativos, com base no catolicismo ensinado pelos jesuítas, foi um símbolo da resistência.
Indolentes, preguiçosos, arredios, imprestáveis para o trabalho. Eram algumas das expressões utilizadas.
Quanto à escravidão do negro africano, os jesuítas eram favoráveis e consideravam até como uma possibilidade de salvação da alma pagã pela conversão.
A resistência dos escravos negros foi também de suma importância, notadamente com o surgimento de inúmeros quilombos espalhados pela colônia. Eles possuíam uma estrutura social própria, economia de policultura e estrutura militar com armas de fogo inclusive. Não permaneciam totalmente isolados pois praticavam o comércio nas vizinhanças.
Já após a independência do Brasil, a Revolta dos Malês, em Salvador, foi a mais significativa manifestação de resistência dos escravos negros, com um planejamento e organização impecáveis. Esses escravos eram muçulmanos na maioria, tinham um certo nível de instrução, sabiam ler e escrever. Isso foi um fator de grande vantagem contra colonos analfabetos. A revolta foi sufocada em conseqüência de uma delação.
A monocultura da cana-de-açúcar foi baseada no sistema denominado “plantation”: vastas áreas de terra (latifúndios), mão-de-obra escrava, produto destinado à exportação.
Pelo pacto colonial, tudo deveria seguir para Portugal ou vir de lá, entretanto, embarcações estrangeiras aportavam por aqui freqüentemente, para um comércio oculto de vários produtos.
No século XVI, os principais produtos do Brasil eram: pau-brasil, algodão e açúcar. No século XVII: açúcar, algodão, fumo e pau-brasil. No século XVIII: açúcar, fumo, algodão, madeiras, aguardente, couro e ouro.
O açúcar foi de grande relevância porque era um produto caríssimo na Europa, chamado até de Ouro Branco. Os pesados investimentos para a construção de uma usina de cana-de-açúcar eram feitos através de financiamentos de bancos holandeses. O melaço de cana era levado para a Europa, onde também os holandeses se encarregavam de refiná-lo, transformá-lo em açúcar e distribuí-lo para outros países.
Os holandeses encontravam-se em guerra contra a Espanha quando, em 1580, ocorre a União Ibérica. E todo o comércio deles com Portugal é paralisado por ordem dos espanhóis. Houve, logo depois, uma trégua de doze anos, após a qual a paralisação voltou.
Com seus interesses no Brasil ameaçados, é criada uma sociedade anônima, a Companhia das Índias Ocidentais, com o objetivo de invadir e conquistar terras do Brasil para a continuação de seus negócios com a cana-de-açúcar.
Salvador foi escolhida inicialmente e ocupada pelos holandeses da CIO. Em um ano, uma esquadra luso-espanhola, providenciada com a ajuda de fundos arrecadados entre os comerciantes e senhores de engenho, expulsa-os, com a participação indígena na derrota dos holandeses.
Outros ataques foram sofridos por Salvador, sem resultados satisfatórios. O último, em 1638, foi comandado por João Maurício de Nassau, que conquistara Pernambuco, no Nordeste e Angola, na África, e, dessa maneira, monopolizara o comércio de escravos.
A libertação de Salvador da mão dos holandeses da CIO contou, ainda, com o auxilio financeiro de uma vasta camada da população de cristãos-novos, descendentes dos judeus expulsos da Espanha em 1492 que refugiaram-se em Portugal e, em 1497, foram obrigados a se converter ao cristianismo.
Desde a instalação do tribunal da Inquisição em Portugal, a vida tornou-se insuportável para judeus, cristãos-novos e marranos, mesmo que fossem inocentes e não tivessem mais práticas do judaísmo. Essa situação fez com que eles vissem o Brasil como uma “terra prometida”, onde ocultariam sua real identidade e começariam uma vida nova.
Alcançam aqui um status superior, como mestres de açúcar, senhores de engenho, advogados, dramaturgos e até clérigos. Casam-se, os ricos com filhas de senhores de engenho. Os mais pobres com negros e índias. Participam da miscigenação.
Guardam ainda a essência de sua cultura original e ocupam uma situação particular na sociedade: dela excluído e nela vinculado. É um homem dividido. Para os judeus é cristão. Para os cristãos é judeu. E afirmam: nem judeu, nem cristão, mas “cristão-novo com a graça de Deus”.

 

Maracanã - 1969 - Seleção Brasileira



Diante de mais de 180 000 pessoas no Maracanã, Pelé marca o gol que classificou o Brasil para o Mundial do México, depois que o goleiro Aguilera não conseguiu segurar o chute de Edu (em segundo plano). Fonte: Revista "Veja".


Em 1969 fui ao Rio de Janeiro com o tio Herminhas, para assistir, no Maracanã, ao último jogo da Seleção Brasileira nas eliminatórias para a Copa do Mundo do México de 1970.
Fanático por futebol, torcedor do Santos, da geração Pelé, eu não perdia um jogo nos estádios, no rádio ou na TV.
Chegamos lá num sábado e ficamos no apartamento da prima Lílian Chambelland, que morava com sua mãe viúva. Fomos recepcionados com um chá das cinco, acompanhados por amigas delas e, mais tarde, demos um giro pela cidade (naquela época não tinha perigo).
No dia seguinte, numa Kombi dirigida por um primo e lotada de primas, rumamos ao Maracanã para o jogo contra o Paraguai.
Apertos para lá e para cá, empurra-empurra na entrada do estádio e eu, confortavelmente, acabei assistindo o jogo no colo de uma das primas (Maria Elza), muito bonita e muito mais velha que eu.
Foi recorde de público no Maracanã, o qual nunca foi superado. Talvez somente a final Brasil x Uruguai, na Copa do Mundo de 1950, teve um número tão grande. O Brasil venceu por um a zero, voltamos satisfeitos para o apartamento e, na segunda-feira, retornaríamos a São Paulo sem nenhum atropelo se não houvesse ocorrido um pequeno incidente muito engraçado.
Pouco antes do amanhecer, ainda de madrugada, eu levantei-me para beber água e olhei pela janela uma feira sendo armada na rua em frente ao prédio. E o fusquinha do meu tio no meio das barracas. Mas, com tanto sono, não o acordei e voltei a dormir.
Antes do café da manhã, ele tomava banho, tranqüilão, quando me lembrei da feira e avisei-o. Ele saiu do banheiro aos pulos, correndo para a janela. O carro estava cercado por barracas. Foi uma novela para conseguir sair de lá. Mas deu tudo certo.
Voltamos a São Paulo, felizes e contentes com a vitória do Brasil e a classificação para a Copa de 70.

terça-feira, junho 15, 2010

 

Museu da Língua Portuguesa

www.estacaodaluz.org.br


Em janeiro de 2007, na viagem que fiz a Sampa com Clarice, fomos ao Museu da Língua Portuguesa. Ele é organizado para transformar-se em um ponto de encontro com a língua, a literatura e a história. Ao invés de paredes, vozes. No lugar de obras, espaços interativos.
No coração de São Paulo, na Estação da Luz, o Museu proporciona uma viagem sensorial e subjetiva pela língua portuguesa, guiada por palavras, autores e estrelas do Brasil.
A visita é feita pelos diferentes ambientes que descrevo a seguir.

Exposição Temporária: Na ocasião, em homenagem aos 50 anos da obra de Guimarães Rosa, "Grande Sertão:Veredas". Um passeio pelas veredas de Guimarães Rosa e caminhos por aspectos do livro.

Auditório: onde é exibido um filme de dez minutos sobre a origem da linguagem e das línguas.

Praça da Língua: Salão com arquibancadas em forma de anfiteatro. Como em um planetário, efeitos visuais são projetados no forro do teto e é feita uma narração de clássicos da prosa e da poesia em sons e imagens.

Grande Galeria: É como um túnel. E um telão de 106 metros de comprimento exibe onze filmes simultaneamente.

Linha do Tempo: A história de seis mil anos da Língua Portuguesa num grande painel com textos, gravuras, mapas e vídeos.

Mapa dos Falares: Mapas animados dos falares do Brasil. Tela interativa. Ao selecionar um estado, ouve-se o jeito de falar naquele lugar.

Palavras Cruzadas: Monitores interativos para brincar com as palavras e aprender sobre sua origem. Totens dedicados às línguas africanas, indígenas, espanhol, inglês e francês.

Beco das Palavras: Diversão movimentando imagens de pedaços de palavras. Radicais, prefixos e sufixos que se misturam. Ao juntar os pedaços e formar uma palavra, a mesa vira uma tela que mostra filmes e animações sobre a origem e significado da palavra formada.

O Museu da Língua Portuguesa é um local por demais empolgante, para obrigatoriamente se visitar em São Paulo.
Principalmente para quem tem boa ventilação intelectual.

 

Os Desclassificados da História












DESCLASSIFICADOS E DESPOSSUÍDOS
Comentários sobre a pobreza na Bahia do século XIX[1]

Cláudia Coelho
Hermas Caiuby[2]

Estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU) informam que existem, nos dois hemisférios do mundo, 1 bilhão de mendigos e 500 milhões de pessoas no limiar da miséria absoluta. Metade da população mundial não tem acesso a água potável e 14 milhões de pessoas por ano morrem de fome.
A globalização ocorrida nos séculos XX e XXI trouxe também a globalização da pobreza. E isso não é monopólio dos países do terceiro mundo e emergentes pois os números são tanto dos países do Norte como do Sul do globo terrestre.
Nunca conseguiu-se a erradicação da pobreza no mundo. Altos e baixos ocorreram eventualmente, mas a complicação é de que trata-se de um problema cultural e estrutural vindo dos mais remotos tempos da humanidade.
Desde que foi inventada (ou descoberta) a agricultura, o ser humano passou da caça, pesca e coleta de produtos da natureza para o trabalho coletivo na lavoura apenas para subsistência. As desigualdades e injustiças apareceram a partir do momento em que começaram a ocorrer excedentes de produção e o surgimento do escambo entre comunidades diferentes. O armazenamento desses excedentes acabaram por privilegiar alguns que utilizavam-se de motivos religiosos como justificativa.
A situação progrediu mais ainda quando alguém resolveu cercar uma determinada área agrícola e afirmar que pertencia a ele e os outros aceitaram, surgindo a propriedade privada. A partir de então passamos para a exploração do trabalho pelo capital com o poder das classes dominantes em todas as civilizações da história.
Após a Revolução Industrial com suas alterações marcantes na sociedade e a urbanização desenfreada, crescia na Europa e nos Estados Unidos a noção de igualdade de direitos e a preocupação com a pobreza e medidas para saná-la. Enquanto isso, no Brasil, o sistema ainda era o escravagista, sem preocupação alguma com os desvalidos existentes. Schwartzman deduz sobre isso:
“Ninguém parece ter pensado, no Brasil do século XIX, em criar leis e instituições para ajudar aos pobres, como se tentou fazer na Inglaterra ou nos Estados Unidos. Uma possível razão foi que o Brasil não assistiu aos grandes deslocamentos, destruição de postos de trabalho e explosão populacional que acompanharam a revolução industrial na Europa, nem as grandes maciças que inundaram os Estados Unidos naqueles anos, e que acabaram sensibilizando os ricos e remediados. A pobreza brasileira no século passado não era muito diferente da pobreza dos séculos anteriores, e nossas elites tampouco eram muito distintas.”[3]

Kátia Mattoso presume que, em 1808, na Bahia existiam 118 mil negros e mulatos escravos e 144 mil negros e mulatos livres, numa população de 356 mil habitantes. Pelo censo de 1872, negros e mulatos escravos contavam 167 mil, negros e mulatos livres 830 mil, numa população de 1.380 mil habitantes. Já o senador Joaquim Floriano de Godoy pesquisou, em 1875, chegando a negros e mulatos escravos 82.957, negros e mulatos livres 376.548 e desocupados 526.528. (SCHWARTZMAN, 2004).
Conhecendo-se o que hoje ocorre, poderemos entender melhor as épocas anteriores e, por ser o nosso enfoque a Bahia do século XIX vamos notar que, em Salvador, na cidade velha, a paisagem é a mesma, o que mudou foi o espaço, como diria Milton Santos. Fraga, em sua obra, traça um mapa da mendicância e da vadiagem que continua o mesmo.
A mendicância e a vadiagem foram consequência do sistema escravagista, o qual não tinha lugar para livres e libertos. A mão de obra escrava ocupava todos os postos onde o trabalho braçal era coisa indigna. Noventa por cento da população de Salvador no século XIX vivia na indigência e afirma Lapa que:

“Não havendo na cidade a possibilidade de retirar da natureza a subsistência, tendo que se sujeitar ao mercado de trabalho a à produção artesanal e manufatureira, as leis que regem esse complexo marcado pelo escravismo, relegam o excedente da força de trabalho ao parasitismo e à dependência ou indigência, sem deixar de contemplar substanivamente a marginalidade.”[4]

A propriedade de escravos era muito facilitada. Pessoas pobres das mais diversas atividades possuíam pelo menos um. Até mendigos e mesmo escravos (LAPA, 2008).
A mendicância e a vadiagem eram exercidas por aqueles que não desejavam se sujeitar a um senhor, mesmo não sendo escravos, mas em padrões semelhantes aos de um escravo. Isso era humilhação demais para eles. Outros por falta de emprego, especialmente nos diversos momentos de crises econômicas. Estas ocorreram com muita frequência e também trouxeram carestia e fome, ocasionando rebeliões de desempregados estigmatizados como vadios.
Os pobres eram controlados e obrigados a se submeterem a um regime de disciplina ao trabalho. Deveriam seguir os preceitos morais e comportamentos convenientemente determinados pelos senhores dominantes, para que tivessem algum préstimo no sistema vigente.
Em uma sociedade eminentemente católica, apesar da confrontação por razões comportamentais, os mendigos eram tolerados. A esmola era estimulada como forma de praticar a caridade necessária para obter a salvação.
Dessa forma, os mendigos eram necessários para a sociedade. O que já não acontecia com os vadios. A diferença é que tornavam-se mendigos os idosos, doentes, cegos e deficientes físicos sem condições de trabalhar. Além de muitos espertalhões astutos usando disfarces. A maioria era de escravos abandonados pelos senhores que não queriam ter despesas médicas com eles ou porque pela idade já não produziam.
Os vadios eram pessoas produtivas mas eventualmente sem emprego, como marinheiros aguardando barcos no porto para os contratarem ou pescadores fora de época de pesca. Também havia, evidentemente, os que não queriam saber de nada mesmo.
A polícia cadastrava e controlava toda essa gente. Tratava-se de perigo para a sociedade. O número de mendigos, vadios e moleques de rua em Salvador e nas cidades do Recôncavo era assustador. Eles formavam a maioria. Uma massa de pessoas que compunham a população. Os “bem nascidos” e as “pessoas de bem” constituíam parcela mínima.
Andarilhos eram comuns, indo de cidade em cidade procurando conseguir algo para fazer. Outros realizavam serviços esporádicos ou eram vendedores autônomos que viviam na informalidade.
A repressão à vadiagem era ostensiva. Casas suspeitas eram invadidas pela Guarda Nacional e existiam cadastros de moradores em cada bairro. Eles eram considerados uma ameaça à sociedade e à ordem pública, evidentemente uma ameaça à maneira de viver que a burguesia determinava. Os vadios normalmente eram presos ou obrigados ao alistamento militar ou naval.
Inusitado é o caso de um grupo de irlandeses vindos como colonos mas que não foram bem sucedidos e perambulavam pela cidade e dormiam em qualquer lugar. Envolveram-se em várias brigas, badernas e beberragens. Presos diversas vezes já eram conhecidos dos policiais da Guarda Nacional. Aconselhados a levarem uma vida normal, responderam que não precisavam trabalhar para ter um lugar onde morar porque com o clima daqui não sentiam frio, não precisavam comprar lenha nem muita roupa. Em certa ocasião foram levados para trabalhar na lavoura, mas não se interessaram e voltaram para a vagabundagem na cidade. (FRAGA, 1996).
Os mendigos tinham na cidade da Bahia, pontos estratégicos por onde passava o maior número de pessoas e, assim, com possibilidades de maiores ganhos. As portas de igrejas eram os lugares prediletos. Em dias de festas religiosas aglomeravam-se na disputa pela caridade das esmolas daqueles que premeditavam a salvação nos céus. Nos velórios e enterros, almejavam ganhar as quantias que normalmente em testamento o falecido determinava para distribuição aos mendigos. E ainda acrescenta Fraga:

“Os mendigos buscavam preferencialmente os centros de poder eclesiástico, civil e econômico. As praças e largos centrais, em virtude da concentração de instituições religiosas e do grande afluxo de pessoas, eram os territórios da mendicância por excelência. Os espaços sagrados tornavam mais eloqüente o ato de dar esmolas.”[5]

Após a Independência, os mendigos passaram a ser encarados sob outro prisma e tratados de maneira semelhante aos vadios e vagabundos.
Uma nação que pretendia civilizar-se e igualar-se às nações européias necessitava solucionar o problema da multidão de desvalidos que viviam nas ruas.
O poder público esquivava-se de se responsabilizar por asilos para acolher os mendigos. Os que foram constituídos receberam apoio de ordens religiosas.
Com os asilos os membros da elite poderiam praticar a caridade, ficando tranqüilos em suas consciências e, ao mesmo tempo, não teriam a situação incômoda e desagradável de ver a cidade suja de mendigos pelas ruas.
Ao ingressar num asilo, o mendigo passava por uma faxina de banho, cabelos, barba, roupas. Eram fichados e assim estariam a mercê da polícia se fugissem.
Somente com autorização poderiam ter duas licenças por mês para sair.
Sempre que surgiam oportunidades eles fugiam. Preferiam a vida livre pelas ruas à disciplina rígida do asilo.
A mendicância, tanto quanto a vadiagem, passou a tomar contornos mais drásticos pelas autoridades a partir de 1850 com o fim do tráfico de escravos. O trabalho dos pobres era considerado imprescindível pelas classes dominantes e a intolerância com a ociosidade radicalizou-se. Cunha ainda reforça o seguinte:

“Os vadios violavam a ordem patriarcal, segundo a qual todo homem devia ter seu lugar, sua família, seu senhor. A vida itinerante dava ao homem livre pobre um sentimento de autonomia, que era visto como inconveniente às relações sociais e de poder existentes.”[6]

Após a Lei Áurea então, tentou-se o branqueamento da raça, juntamente com a substituição da mão de obra escrava pelos imigrantes europeus. Essa iniciativa obteve sucesso somente nas províncias do sul. Para a Bahia e outros estados do Nordeste não chegaram esses imigrantes.
O 13 de maio causou diversos dias de festas, danças, samba, beberragens e abandono total, por parte dos libertos, das lavouras e usinas de açúcar. Os senhores sentiam-se chocados. As senhoras foram obrigadas a ir para a cozinha. Como a Lei já era esperada, muitos adiantaram-se e anteciparam a distribuição de alforrias, presumindo que os escravos continuassem a trabalhar, sem abandono, por agradecimento à atitude generosa. Outros aguardaram por uma indenização que não houve.
A perseguição contra a vadiagem aumentou por pressão dos senhores que tinham a esperança de retorno dos ex-escravos ao trabalho. Entretanto nada foi possível, os libertos queriam uma vida diferente, longe do que faziam durante a escravidão. Muitos foram enviados para o alistamento militar e, como diz Fraga:

“Uma análise mais profunda desses episódios mostra que , de variadas maneiras, os libertos não apenas repeliram as tentativas senhoriais de continuar a interferir em suas vidas cotidianas, controlar seus movimentos, impor castigos e punições, ditar o ritmo de trabalho, como também se empenharam em assegurar e ampliar antigos direitos ou ganhos recém conquistados no curso das lutas contra a escravidão.”[7]

Apesar das medidas coercitivas, o número de indigentes nas ruas aumentava a cada ano demonstrando que elas não deram os resultados desejados. E nunca iriam dar certo, pois os problemas sociais existentes nunca foram sanados. Esses problemas, as injustiças, desigualdades e diferenças econômicas geravam e continuam a gerar a classe dos excluídos. Classe dos excluídos que perpetuou-se até os nossos dias.
A composição étnica de toda essa turba que habitava o Recôncavo é óbvia: negros e mestiços. Apesar de que também existiam, contudo em bem menor quantidade, alguns europeus. Desgostosos e desapontados em não terem atingido o objetivo de fazerem fortuna no Novo Mundo.
Os mendigos eram idosos, abandonados pelos senhores. Os vadios tinham condições de trabalhar, porém por razões sazonais ou por falta de interesse mesmo viviam na vagabundagem. Poderiam ainda ser jovens, meninos e meninas, sem querer ficar no sistema de se submeter a um senhorio e continuar a viver sob ordens. Ou eram abandonados, órfãos e sem família. Estes ganhavam a rua, onde praticavam arruaças, brincavam, brigavam, badernavam, roubavam e prostituiam-se.
Os meninos vadios, moleques, eram desprezados juntamente com os mendigos e prostitutas. Eram considerados elementos muito perigosos que chegavam até mesmo a enfrentar a polícia.
As residências dos “bem nascidos” tinham muros altos com cacos de vidro no topo e cachorros bravos fazendo a proteção. Pareciam prisões, comentou Gilberto Freire.(FRAGA, 1996).
Esses moleques não respeitavam ninguém. Nem o mais digno e eminente ancião, nem autoridades. Assobiavam, soltavam gracinhas e obscenidades. Jogavam pedras, ofendiam quem passava com palavrões, gritavam, batucavam. Faziam, a carvão, desenhos pornográficos nos muros. Formavam quadrilhas.
A rua para eles era o paraíso, seu domínio onde prezerozamente faziam toda sorte de travessuras e libertinagens.
Dessa forma eles protestavam contra as imposições de uma sociedade escravista que não lhes dava oportunidades por serem libertos.
Quando presos apanhavam com palmatórias, levavam chibatadas e outros castigos corporais humilhantes que os igualavam aos escravos.
Confrontos com a polícia eram constantes por ocasião de festas populares onde eles aproveitavam para escandalizar e apavorar as pessoas.
Em certa ocasião um deles foi preso e seus companheiros avançaram contra a patrulha da polícia para resgatá-lo.(FRAGA, 1996).
Podemos perguntar o por quê de tudo isso. Seria somente como forma de rebelião contra as normas impostas pelos adultos?
Não, claro que não. Isso é razão insuficiente e não determinante para todos os casos.
Temos de observar ou imaginar em nossas mentes a cidade da Bahia no século XIX com 90% da população na miséria. Os pais não tinham condições de sustentá-los e porisso muitos foram largados e abandonados ainda criancinhas.
Após crescerem esses meninos eram entregues a um mestre de ofício para aprenderem um trabalho. Em troca de disciplina rígida e obediência tinham alimentação e roupas.
Porém também os moleques é que tomavam a decisão de abandonar o lar ou o mestre de ofício. Sofriam muito, recebiam castigos corporais diuturnamente. Os órfãos ou vindos da rua eram discriminados. E Fraga enfatiza que:

“Diante do quadro de maus-tratos e exploração, a rua depressa revelava seus encantos. Na rua se podiam experimentar os prazeres da vadiação, a liberdade dos banhos nas fontes e no mar, de vagar pela cidade sem a intransigência e as obrigações impostas por pais e mestres de ofício.”[8]

Diversas instituições foram criadas para acolher órfãos e crianças abandonadas. Muitas da Igreja Católica, ocupando uma lacuna deixada pelo poder público.
Mais tarde somente é que as autoridades vieram a se preocupar com o problema dos meninos de rua (termo usado hoje por nós), com patrulhas para arrebanhá-los e entregá-los a navios da marinha como grumetes (aprendizes de marinheiros) ou a mestres de ofício que conseguissem dominá-los.
Pela carreira militar pairava um horror muito grande. Os castigos corporais eram intensos. Os grumetes sofriam torturas diariamente.
E com os mestres de ofício eram virtualmente tratados como escravos.
Na Escola Agrícola da Bahia foram enviados outros, pois lá havia um asilo para órfãos e meninos pobres.
Entretanto essas medidas não foram suficientes. A cidade da Bahia tornava-se a cada dia mais infestada e invadida por esses moleques peraltas, o que demonstrou que o poder público fracassou.
E isso continua até os nossos dias.
Uma caminhada pelo Centro Histórico de Salvador, o Pelourinho, demonstra isso. Apesar de ONGs e instituições voltadas à assistência ao menor carente como existe no grupo Olodum, esses meninos não têm o que fazer quando saem dessas suas atividades. Não existe perspectiva de emprego rápido para eles. E, assim, vemos hoje a mesma paisagem do passado num espaço modificado: os nossos meninos de rua, antes chamados de meninos vadios, moleques e peraltas.
Visitando Salvador hoje, na primeira década do século XXI, voltamos ao início deste artigo para afirmar, como Milton Santos: a paisagem é a mesma, o que mudou foi o espaço. E poderíamos acrescentar ainda: as personagens também são as mesmas, o que mudaram foram os atores.

Observações

1- Pobreza para entretenimento: diversos autores têm obras que enfocam o assunto em literatura de ficção, poesia e teatro; damos um destaque muito especial a Jorge Amado e relacionamos Manoel Antônio de Almeida, Lima Barreto, Aluísio de Azevedo e Machado de Assis, dentre muitos outros.

2- Pesquisa - Tanto Fraga como Lapa sugerem a quem se interessar por pesquisas sobre o assunto, as seguintes fontes:
Literatura dos viajantes estrangeiros
Registros nos arquivos da Igreja Católica
Instituições Pias e de caridade
Santas Casas de Misericórdia
Crônica policial dos jornais da época
Documentação do Poder Judiciário
Leis das Câmaras Municipais
Cartórios
Creches, orfanatos, asilos e albergues.

Referências

Cunha, Eneida Leal. Cenas e Cenários da Cidade Negra. http://www.letras.puc-rio.br/Catedra/Revista/3%20Sem_12.html Acesso em 2/3/2009, 10:23 h.

Fraga Filho, Walter. Mendigos, Moleques e Vadios na Bahia do Século XIX. São Paulo/Salvador: Hucitec/EDUFBA, 1996.

Fraga Filho, Walter. Encruzilhadas da Liberdade. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2006.

Lapa, José Roberto do Amaral. Os Excluídos: contribuição a história da pobreza no Brasil (1850-1930). São Paulo: EDUSP, 2008.

Schwartzman, Simon. As causas da Pobreza. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2004.
Notas

[1] Artigo apresentado à disciplina História do Brasil (século XIX), sob orientação da docente profa. Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes.
[2] Alunos de Graduação em História do Departamento de Educação – Campus X/UNEB, Teixeira de Freitas, Bahia.
[3] Schwartzman, As Causas da Pobreza, cap. 2.
[4] Lapa, Os Excluídos, p. 24.
[5] Fraga, Mendigos, Moleques e Vadios, p. 54.
[6] Cunha, Cenas e Cenários da Cidade Negra, p. 2.
[7] Fraga, Encruzilhadas da Liberdade, p. 165.
[8] Fraga, Mendigos, Moleques e Vadios, p. 124.


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