segunda-feira, outubro 26, 2009

 

A Libertação da América Espanhola




Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Campus X – Teixeira de Freitas – Depto. de Educação
Curso: História IV
Disciplina: América Colonial
Docente: Profa. Kylma Marluza Luz Kramm
Acadêmico: Hermas Braga Dale Caiuby
20/03/2009

A LIBERTAÇÃO DA AMÉRICA ESPANHOLA

Hermas Caiuby

As lutas pela libertação na América espanhola deram-se quase que simultaneamente em todas as regiões, com pequenas diferenças de alguns anos e com a primordial participação das elites, os criollos (filhos de espanhóis nascidos na América). Antes, eles promoviam repressões violentas contra revoltas de índios e mestiços, mas a situação mudou quando começaram a aparecer discordâncias com a metrópole.
Entretanto, a primeira independência na América Latina foi a do Haiti, em 1803, sendo a iniciativa e a luta realizadas por escravos negros, contra a opressão e domínio dos brancos.
Hispaniola, a ilha aonde chegou pela primeira vez Cristóvão Colombo, chamada de São Domingos, teve uma metade abandonada pelos espanhóis, após terem sugado todo o ouro disponível. Por causa desse abandono e com a aquiescência dos espanhóis, os franceses passaram a dominar a região onde hoje é o Haiti, com canaviais e usinas de açúcar, a partir de 1697.
Noventa por cento da população era composta por escravos negros vindos da África. Não poderiam contar com a mão-de-obra nativa porque os indígenas, que no início da conquista pela Espanha formavam uma população de 500 mil habitantes, em quinze anos foram reduzidos a apenas 60 mil.
De 1764 a 1771 entravam no Haiti cerca de 10 mil escravos africanos por ano. A partir de 1787 esse número subiu para 40 mil. Na chegada, os sobreviventes da viagem infernal nos porões sujos e sem higiene dos navios, eram marcados a ferro em brasa, no peito, com o símbolo do proprietário.
Os castigos brutais que recebiam, faziam parte da rotina diária, com chibatadas, mutilações de orelhas e do órgão genital. Obrigavam-lhes a comer escremento e as torturas físicas tinham aplicações sistemáticas.
A sede de vingança subia e permanecia na mente desses escravos. Em suas cerimônias e rituais do Vodu (sincretismo religioso seguido na região), prometiam, pediam e faziam juras para que a vingança se concretizasse.
As idéias iluministas chegavam ao Haiti e espalhavam-se entre os escravos. Juntando-se a isso o ódio cultivado aos brancos dominadores, surgiram as primeiras revoltas, em 1791, lideradas por Toussaint L’Ouverture, que conseguiu expulsar os franceses e constituir um governo. Mas, isso durou somente até a chegada de Napoleão Bonaparte ao poder na França. Ele enviou uma esquadra com soldados para a reconquista do Haiti. As tropas de L’Ouverture infligiram algumas derrotas aos franceses, até que chegaram a um cessar-fogo e L’Ouverture deixou-se levar preso à França, na esperança de conseguir um acordo. Confiando na Liberdade, morreu em uma prisão nos Alpes.
A luta continuou com a liderança de Jean-Jacques Dessaline , até que em 1803 o Haiti tornou-se independente, sendo a primeira república negra da América.
Esses acontecimentos causaram pavor em Cuba, no Brasil e nos Estados Unidos. Uma revolta com a tomada do poder por escravos negros era algo impensável. No Brasil ainda somava-se a esse medo, o que a metrópole chamava de “abomináveis idéias francesas.”
Após a invasão da Península Ibérica pela França de Napoleão Bonaparte, a retirada de Fernando VII do trono espanhol, substituído por José Bonaparte, irmão de Napoleão, a Espanha ficou enfraquecida e com menor centralização administrativa e controle sobre as colônias. As Juntas de Governo, criadas como resistência ao domínio francês, rivalizavam-se entre a guerra e os negócios coloniais.
Na América, o objetivo dos criollos era a liberdade econômica e autogoverno. Dessa elite a maioria era de proprietários rurais, contudo, em Havana, Lima e Buenos Aires, a classe mercantil predominava. Inicialmente não se pensava em independência, mas com a oportunidade da perda de poder da metrópole, foram criadas Juntas Governativas também nas colônias (Cabildos) com três diferentes correntes de pensamento: fidelidade a Fernando VII ou autonomia das juntas para governar em nome do rei ou completa independência. Esta última aos poucos se tornou dominante. Todas as Juntas Governativas coloniais deram-se o direito de autogovernar-se, rejeitando a subordinação às juntas metropolitanas ou às autoridades francesas. Gradativamente uma outra espécie de domínio sobre a América começava a surgir: a preponderante influência econômica da Inglaterra a procura de outros mercados para compensar o Bloqueio Continental imposto pela França. O comércio e o controle da Bacia do Prata foram o início.
Com exceção do México, que contou com a participação de uma multidão de camponeses e indígenas, o movimento partiu de caudilhos (líderes regionais), sem qualquer tipo de pensamento ideológico como proposta. Os destaques foram os venezuelanos Francisco de Miranda e Simon Bolívar, republicanos radicais e o monarquista liberal José de San Martín.
As idéias iluministas e a Independência dos Estados Unidos influenciaram sobremaneira para um movimento cujo objetivo seria a libertação do domínio colonialista da metrópole, sem mais nenhum vínculo. Esses ideais difundiram-se a partir de três pólos: Caracas, Buenos Aires e México. A resistência espanhola concentrou-se em Lima.
Na Venezuela, foi proclamada a independência em um congresso reunido, em 1811, por Francisco de Miranda. No ano seguinte, ele foi derrotado e preso, sendo substituído na luta por Simon Bolívar.
Em 1814 e 1815, com a derrota de Napoleão Bonaparte, reuniram-se nações européias no Congresso de Viena, com o objetivo de restaurar os regimes absolutistas das monarquias apeadas do poder com os ideais da Revolução Francesa (“abomináveis idéias francesas”) e dar um fim às revoltas das colônias. Foi criada a Santa Aliança, entre Rússia, Prússia e Áustria, como instrumento de força e coerção para esse objetivo.
No entanto, a América espanhola pôde contar, desde 1817, com o apoio da Inglaterra, contrária a essa intromissão do Congresso de Viena e, evidentemente, interessada em novos mercados consumidores para seus produtos fabricados em grande escala com os avanços tecnológicos da Revolução Industrial.
Do Vice-Reino do Prata (Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia), Gaspar Francia, em 1813, formou uma república no Paraguai. O Uruguai, que havia sido anexado ao Brasil com o nome de Provícia Cisplatina, tornou-se independente, em 1821, após mediação inglesa.
José de San Martín, o Protetor, membro da elite, era a favor do rompimento completo desde o início do movimento em Buenos Aires. Conseguiu unir a classe dominante em torno dessa idéia, destacando-se no Congresso de Tucumã que proclamou a independência das Provícias Unidas do Prata (Argentina).
No Chile, foram realizadas eleições, em 1811, tendo à frente José Miguel Carrera, derrotado pelos espanhóis vindos do Peru um ano depois. Bernardo O’Higgins passou a liderar a luta pela independência, proclamada em 1818, com a expulsão das tropas espanholas pelo exército dos Andes, comandado por San Martín.
Simon Bolívar, o Libertador, protagonizou a união da Venezuela e Nova Granada (Colômbia, Panamá e Equador) para suprir a fraqueza que ele achava do isolamento de cada uma dessas provícias. Sua estratégia era levar o exército a ocupar o interior em primeiro lugar, cortando vias de abastecimento para o litoral. Em 1819, no Congresso de Angostura, foi criada a República da Grã-Colômbia e, em 1821, a independência da Venezuela estava garantida.
No Peru, onde se concentrava a resistência espanhola, os exércitos de San Martín, auxiliados pelos navios de Lorde Cochrane, ocuparam Lima derrotando-os.
No Equador, as tropas de San Martín encontraram-se com as de Bolívar, comandadas pelo seu lugar-tenente José Sucre e, juntos, tomaram Quito. O Equador foi anexado à Grã-Colômbia, em 1822.
O último reduto espanhol foi o Alto Peru (Bolívia), libertado por Bolívar e Sucre em 1824 e 1825.
A independência da Nova Espanha (México) foi liderada pelo padre Miguel Hidalgo, em 1810 e 1811. Após seu fuzilamento, o padre José Maria Morellos continuou a luta até a completa vitória final. Em 1815, a revolta contra a opressão espanhola partiu dos camponeses, índios e mestiços, numa base étnico-social, logo depois com a adesão da aristocracia criolla. O projeto não previa o rompimento com a Espanha e um enviado do rei, Augustín de Iturbide, fez um acordo com as tropas rebeldes. Logo depois ele proclamou-se imperador, apoiado pelo exército, sendo deposto por um levante que instaurou a república.
Foi muito importante o auxílio inglês nas lutas pela independência na América espanhola, através de esquadras nos portos americanos, transporte dos exércitos de libertação e também auxiliando, em algumas vezes, durante os combates. Diplomaticamente, a Inglaterra impôs o princípio da não-intervenção e se opôs taxativamente contra a Santa Aliança.
Os Estados Unidos, em 1821, preocupados com o avanço russo pelo Alasca e litoral do Pacífico, bem como, com o predomínio da Inglaterra na América, lançou, em 1823, uma idéia que é conhecida até os nossos dias como “Doutrina Monroe”: “A América para os americanos.” Uma advertência contra qualquer tipo de intervenção no continente que com muito sofrimento e sacrifícios conseguiu sua justa Liberdade.

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